Jurimetria

Inscrições: https://forms.gle/X4HGgxtJYnzSy4AY6

Informações: acm@acm-itea.org

Jurimetria é a estatística aplicada ao direito. Nos últimos anos, a jurimetria vem sendo empregada por acadêmicos, administradores de tribunais, advogados e empresas para auxiliar na tomada de decisão a partir de análises estatísticas e aplicação de técnicas de inteligência artificial, seja para aprimorar a prestação jurisdicional, desenvolver estratégias jurídicas ou mesmo avaliar o impacto de políticas públicas. Nesse evento, discutiremos alguns conceitos básicos e aspectos práticos da jurimetria, mostrando problemas reais enfrentados e as soluções propostas.

Análise

A Jurimetria, como campo de estudo, tem suas raízes na antiguidade, quando os primeiros sistemas legais começaram a emergir. A ideia de aplicar métodos quantitativos ao direito, no entanto, é um desenvolvimento relativamente recente. O termo “Jurimetria” foi cunhado por Lee Loevinger em 1949.

O desenvolvimento da Jurimetria foi impulsionado pelo advento da tecnologia da informação, que facilitou a coleta e análise de grandes volumes de dados jurídicos. A Jurimetria moderna é, portanto, um produto da era digital.

Essa nova área de estudos vai ser usada para analisar uma variedade de questões legais, desde a previsibilidade das decisões judiciais até a eficácia das políticas públicas. Ela tem o potencial de transformar a maneira como entendemos e aplicamos a lei.

Como campo interdisciplinar que combina a ciência do direito com métodos quantitativos, possui uma história rica e multifacetada. Mais recentemente, aos primórdios do século XX, envereda em seus primeiros estudos estatísticos aplicados ao direito. Autores como John Selden, em seu trabalho “Table Talk”, de 1689, já exploravam a relação entre dados numéricos e a prática jurídica.

No entanto, foi somente a partir da segunda metade do século XX que a Jurimetria começou a ganhar destaque, com contribuições significativas de acadêmicos como C. K. Allen, autor de “Law in the Making” (1964), e Lawrence M. Friedman, com “Law and Society: An Introduction” (1973), que demonstraram o potencial das análises quantitativas no estudo do direito.

Em 1948, Lee Loevinger cunhou o termo “jurimetrics”, definindo-a como a aplicação de métodos quantitativos ao Direito. A partir daí, a área se consolidou com a criação da Associação Internacional de Jurimetria (1973) e da Associação Brasileira de Jurimetria (1983).

Aspectos Científicos

A Jurimetria é uma disciplina interdisciplinar que combina direito, estatística e ciência da computação. Ela usa métodos quantitativos para analisar e prever o comportamento legal.

Dessa forma ela recebe base na ideia de que o direito pode ser quantificado e medido. Isso permite que os juristas usem ferramentas estatísticas para analisar dados legais e fazer previsões sobre o comportamento legal.

Nesse mister também envolve o uso de algoritmos e aprendizado de máquina para analisar dados legais. Isso pode incluir a análise de decisões judiciais, legislação e contratos.

No campo científico, a Jurimetria se desenvolveu como uma disciplina que utiliza ferramentas estatísticas e matemáticas para analisar padrões e tendências no sistema jurídico. Autores como M. Ethan Katsh, em “The Electronic Media and the Transformation of Law” (1989), e Mathew H. Kramer, com “In Defense of Legal Positivism” (1999), destacam a importância da abordagem científica na compreensão do funcionamento das instituições legais. A aplicação de métodos quantitativos na análise de decisões judiciais, por exemplo, permite identificar padrões de comportamento dos magistrados e avaliar a eficácia das leis em diferentes contextos.

Experimentação e Inovação

A experimentação é fundamental para o avanço da Jurimetria, permitindo testar hipóteses e validar modelos teóricos. Autores como Tracey L. Meares, em “Targeting Guns: Firearms and Their Control” (2019), e Richard A. Posner, com “The Economics of Justice” (1981), destacam a importância de abordagens experimentais para a formulação de políticas públicas e reformas legais. Projetos que utilizam técnicas de machine learning e análise de big data, como o desenvolvimento de sistemas de predição de decisões judiciais, exemplificam a aplicação da experimentação na Jurimetria.

Enquant disciplina experimental, ela envolve a coleta e análise de dados para testar hipóteses sobre o comportamento legal. Os experimentos em Jurimetria podem envolver a análise de grandes conjuntos de dados, como decisões judiciais ou legislação. Isso pode ser feito usando técnicas de mineração de dados ou aprendizado de máquina.

Os experimentos em Jurimetria também podem envolver a realização de estudos empíricos. Isso pode incluir a realização de pesquisas ou a análise de dados experimentais.

A experimentação é crucial para o desenvolvimento da Jurimetria. Estudos empíricos testam hipóteses e validam modelos, utilizando métodos como:

  • Análise de dados de processos judiciais: quantifica resultados e identifica fatores que influenciam decisões.
  • Simulações computacionais: avaliam o impacto de diferentes variáveis em cenários jurídicos.
  • Estudos de caso: exploram em profundidade casos específicos, fornecendo insights valiosos.

Aplicações

Na Jurimetria, as aplicações são vastas e impactantes. Projetos como o “Instituto de Pesquisa Jurídica e Jurimetria” (2015), liderado por Thomas S. Ulen e Cass R. Sunstein, demonstram como a análise de dados pode contribuir para a formulação de políticas públicas e aprimoramento do sistema judicial. Outro exemplo é o trabalho de Daniel Kahneman, autor de “Thinking, Fast and Slow” (2011), que influenciou a aplicação de princípios comportamentais na formulação e interpretação das leis. Além disso, iniciativas como o “Legal Design Lab” (2013), coordenado por Margaret Hagan, exploram como a Jurimetria pode ser combinada com o design thinking para tornar o sistema legal mais acessível e eficiente.

Ela envolve uma ampla gama de aplicações práticas, que pode ser usada para prever o resultado de casos judiciais, analisar a eficácia das políticas públicas e melhorar a eficiência dos processos legais. Assim também pode ser usada para informar a tomada de decisões legais. Isso pode incluir a previsão do resultado de um caso ou a avaliação do impacto de uma nova legislação.

Finalmente, a Jurimetria pode ser usada para melhorar a transparência e a responsabilidade no sistema legal. Isso pode ser feito através da análise de dados sobre o comportamento judicial ou a eficácia das políticas públicas.

Exemplos Práticos

  1. Previsão de Decisões Judiciais: Um projeto de Jurimetria pode envolver o uso de aprendizado de máquina para prever o resultado de casos judiciais. Isso pode ser feito analisando o texto das decisões judiciais e usando isso para treinar um modelo de aprendizado de máquina.
  2. Análise de Políticas Públicas: Outro projeto de Jurimetria pode envolver a análise de dados sobre a eficácia de uma política pública. Isso pode ser feito coletando dados sobre a política e usando técnicas estatísticas para analisar seu impacto.
  3. Melhoria da Eficiência Legal: Um terceiro projeto de Jurimetria pode envolver o uso de análise de dados para melhorar a eficiência dos processos legais. Isso pode ser feito analisando dados sobre o tempo e os recursos necessários para resolver casos legais.
  4. Previsão de resultados em processos judiciais: auxilia advogados e juízes na tomada de decisões estratégicas.
  5. Análise de risco em litígios: permite a avaliação de probabilidades de sucesso e custos envolvidos.
  6. Perícia e avaliação de danos: utiliza métodos estatísticos para calcular valores de indenização.
  7. Gestão de processos e fluxos de trabalho em escritórios de advocacia: otimiza a eficiência e a produtividade.

Projetos de Jurimetria

1. O projeto “Justiça Preditiva” do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) utiliza algoritmos para prever a probabilidade de sucesso de recursos em tribunais superiores.

2. A ferramenta “Jurisprudência em Números” do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) permite a análise quantitativa de decisões judiciais.

3. O projeto “Jurimetria aplicada à advocacia criminal” da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) desenvolve modelos para prever a pena em casos de crimes dolosos contra a vida.

Principais Desafios

  1. Coleta de Dados: A coleta de dados jurídicos para análise pode ser um desafio devido à natureza dispersa e desorganizada dos dados legais. Além disso, muitos dados jurídicos são confidenciais, o que pode limitar a disponibilidade de dados para análise.
  2. Qualidade dos Dados: A qualidade dos dados coletados é outro desafio. Os dados jurídicos podem ser complexos e ambíguos, e podem exigir uma interpretação cuidadosa para garantir que sejam precisos e úteis para a análise.
  3. Interpretação dos Resultados: A interpretação dos resultados da análise de dados jurídicos pode ser desafiadora. Os resultados podem ser influenciados por uma variedade de fatores, incluindo o contexto legal e social, e podem exigir uma compreensão profunda do direito para serem interpretados corretamente.
  4. Ética e Privacidade: A Jurimetria também levanta questões éticas e de privacidade. A coleta e análise de dados jurídicos podem envolver informações sensíveis, e é importante garantir que essas informações sejam tratadas de maneira ética e que a privacidade dos indivíduos seja protegida.
  5. Aceitação pela Comunidade Jurídica: Por fim, a aceitação da Jurimetria pela comunidade jurídica pode ser um desafio. Embora tenha o potencial de transformar a prática do direito, pode haver resistência à adoção de métodos quantitativos no direito, que é tradicionalmente uma disciplina qualitativa.

Esses desafios não são intransponíveis, mas exigem atenção cuidadosa para garantir que a Jurimetria seja usada de maneira eficaz e ética.

Referências Bibliográficas

  • ABJ. Associação Brasileira de Jurimetria. Disponível em: http://abj.org.br/. Acesso em: 08/04/2024.
  • Aletras, Nikolaos, et al. “Predicting judicial decisions of the European Court of Human Rights: a natural language processing perspective.” PeerJ Computer Science 2 (2016): e93.
  • Allen, C. K. (1964). Law in the Making.
  • American Journal of Legal Studies: https://academic.oup.com/ajlh
  • Ash, Elliott, and Daniel L. Chen. “Can machine learning help predict the outcome of asylum adjudications?.” (2018).
  • Ashley, Kevin D. “Artificial intelligence and legal analytics: new tools for law practice in the digital age.” (2017).
  • Cane, Peter, and Herbert M. Kritzer. “The Oxford handbook of empirical legal research.” (2010).
  • CNJ. Conselho Nacional de Justiça. Justiça Preditiva. Disponível em: [URL inválido removido]. Acesso em: 08/04/2024.
  • COHEN, M. L. Law and social science. New York: The Free Press, 1968.
  • Epstein, Lee, and Gary King. “The rules of inference.” University of Chicago Law Review (2002): 1-133.
  • Friedman, L. M. (1973). Law and Society: An Introduction.
  • Hagan, M. (2013). Legal Design Lab.
  • Ho, Daniel E., and Kevin M. Quinn. “Did a switch in time save nine?.” J. Legal Analysis 2 (2010): 69-113.
  • International Journal of Jurimetrics: https://www.jstor.org/journal/jurimetricsj
  • Kahneman, D. (2011). Thinking, Fast and Slow.
  • Katsh, M. E. (1989). The Electronic Media and the Transformation of Law.
  • Katz, Daniel Martin, Michael James Bommarito, and Josh Blackman. “A general approach for predicting the behavior of the Supreme Court of the United States.” PloS one 12.4 (2017): e0174698.
  • Katz, Daniel Martin. “Quantitative legal prediction—or—how I learned to stop worrying and start preparing for the data-driven future of the legal services industry.” Emory LJ 62 (2012): 909.
  • Kramer, M. H. (1999). In Defense of Legal Positivism.
  • Lauderdale, Benjamin E., and Tom S. Clark. “Scaling politically meaningful dimensions using texts and votes.” American Journal of Political Science 58.3 (2014): 754-771.
  • Law and Social Inquiry: https://www.cambridge.org/core/journals/law-and-social-inquiry
  • Livermore, Michael A., et al. “The Supreme Court’s citation network: 1946-2013.” (2016).
  • LOEVINGER, L. The place of quantitative analysis in legal research. Harvard Law Review, v. 60, n. 4, p. 717-746, 1947.
  • Loevinger, Lee. “Jurimetrics: The Next Step Forward.” Minn. L. Rev. 33 (1949): 455.
  • MARTINS, A. R. C. Jurimetria: a ciência do direito em números. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017.
  • Meares, T. L. (2019). Targeting Guns: Firearms and Their Control.
  • MOTA, P. H. de S. Jurimetria: teoria e prática. São Paulo: Malheiros Editores, 2010.
  • Posner, R. A. (1981). The Economics of Justice.
  • Revista Brasileira de Jurimetria: https://dfj.emnuvens.com.br/dfj/article/view/218
  • Ruger, Theodore W., et al. “The Supreme Court forecasting project: Legal and political science approaches to predicting Supreme Court decisionmaking.” Columbia Law Review (2004): 1150-1209.
  • Saks, Michael J., and David L. Faigman. “Failed forensics: how forensic science lost its way and how it might yet find it.” Annu. Rev. Law Soc. Sci. 4 (2008): 149-171.
  • SPERANDIO, E. Jurimetria: métodos quantitativos para a análise do direito. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007.
  • Sunstein, C. R., & Ulen, T. S. (2015). Instituto de Pesquisa Jurídica e Jurimetria.
  • Surden, Harry. “Machine learning and law.” Wash. L. Rev. 89 (2014): 87.
  • TRF4. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Jurisprudência em Números.
  • UFMG. Universidade Federal de Minas Gerais. Jurimetria aplicada à advocacia criminal.

Nota: Parte do texto foi produzida em sinergia com IA.

Julio Adolfo Zucon Trecenti

Possui graduação em Bacharelado em Estatística pela Universidade de São Paulo (2012) mestrado em Estatística pela Universidade de São Paulo (2016) e doutorado em Estatística pela Universidade de São Paulo (2023).

Pós Doutorando em Jurimetria pela UNIFESP, campus Osasco.

Atualmente é professor auxiliar no Insper – Instituto de Ensino e Pesquisa.

Diretor-Técnico da Associação Brasileira de Jurimetria (ABJ).

Sócio da Terranova Consultoria.

Trabalha com raspagem de dados, arrumação de dados, inteligência artificial, processamento de linguagem natural, visualização de dados e dashboards.

Comentários

Atualmente estou a ensinar a matéria de estatística. Hoje recebi uma nova referência sobre a estatística, que é a Jurimetria. (Agosto Olo Tomé)
Segundo encontro com este tema. Rico e muito relevante em tempos que a justiça é questionada se é ou não justa. Ou até atacada. A Área pode ser uma grande luz. Tema bem explanado, gostei muito. Riquíssimo! (Aguinaldo Antonio Rodrigues)
É um tema intrigante e novo para mim. Em especial, pela fusão entre áreas humanas e exatas e pelo uso das I.A.’s. (André Stefanini Jim)
Ótima palestra (Arley Zamir Chaparro Cardozo)
Aula interessante! (Bruno Ferreira Pinheiro)
Excelente palestra (Cláudio Firmino Arcanjo)
Excelente (Davidson Estanislau de Gois Lima)
A palestra trouxe um tema novo para mim, e ao mesmo tempo instigante, pois abre um lugar a ser explorado por quem estuda matemática e busca novos caminhos de trabalho e pesquisa. Parabéns ao professor Júlio por compartilhar seus estudos e por suas colocações sobre a utilização prática desse novo conhecimento matemático. (Débora Pinto dos Santos)
Palestra excelente (Erick Lucas Correia Cordeiro)
Parabéns pelo tema e palestra. Excelente exposição. (Flávio Maximiano da Silva Rocha)
Muito bom, gostei bastante. (Francisca Gabryella Oliveira Barbosa)
Aula magnífica! Parabéns professor Julio! (Francisca Maria Mendes de Souza Macedo)
Uma discussão da mágica da matemática do direito (Francisco Isidro Pereira)
Excelente palestra! (Galvina Maria de Souza)
Curso excelente (Hermison Bruno Baia Palheta)
Excelente tema e palestra (Ivanildo da Cunha Ximenes)
Só agradecer pelos ensinamentos (Jaqueline de Assis Carvalho)
Excelente palestra (José Ferreira da Silva Júnior)
Excelente palestra (José Jânio Ferreira dos Santos)
Ótima palestra.
Prof Acelino poderíamos ver algo dentro de matemática atuarial!!!! Não lembro de ter ocorrido (Luiz José da Silva)
Muito interasante (Marciano da Silva Soares)
Sendo algo que vi pela primeira vez, achei interessante o estudo da estatística aplicado ao direito, a jurimetria, ampliando minha visão em relação a empregos e matemática em outra área que gosto. (Maria Thalita Abreu Pereira)
Excelente palestra! Parabéns pela abordagem Professor Júlio Trecenti! (Maxwell Gonçalves Araújo)
Brilhante!!! Parabéns Professor Julio Trecenti. Por compartilhar esta aprendizagem conosco (Miron Menezes Coutinho)
Gratidão! (Sandro Alves de Azevedo)
Palestra riquíssima e todos os conceitos muito bem colocada. (Wanderlania Sousa Alves)

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.