Neuroplasticidade

– e aprendizagem da aritmética

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As habilidades cognitivas podem ser classificadas em biologicamente primárias e secundárias. As habilidades biologicamente primárias fazem parte do equipamento cognitivo padrão que emergiu no ambiente de evolução da espécie humana. As habilidades biologicamente secundárias são ilustradas por artefatos culturais, os quais não são universais na espécie e exigem intervenção pedagógica e muito esforço para sua aquisição.

Alguns aspectos das habilidades numérico-aritméticas constituem universais culturais, os quais se desenvolvem de forma espontânea nas crianças convivendo em um determinado contexto. São exemplos de habilidades biologicamente primárias a capacidade de representar aproximadamente e de forma não-simbólica as numerosidades dos conjuntos, realizando operações comas mesmas.

Os sistemas de numerais simbólicos, tais como os verbais e o arábico, exemplificam habilidades biologicamente secundárias. A aprendizagem das habilidades numérico-aritméticas secundárias exige intervenções pedagógicas e muitos anos de prática deliberada.

Neurobiologicamente, a aprendizagem de habilidades numérico-aritméticas depende do estabelecimento de conexões entre áreas corticais que representam as numerosidades de forma não-simbólica e simbólica.

As representações fonológicas dos numerais verbais dependem de áreas perisilvianas da linguagem no hemisfério esquerdo. As representações ortográficas dependem de áreas corticais na transição do córtex occípito-temporalínfero-lateral esquerdo.

As representações sob a forma de algarismos dependem de áreas corticais natransição do córtex occípito-temporal ínfero-lateral bilateralmente. As representações não-simbólicas de numerosidade dependem da região do sulco intraparietal bilateralmente.

Na aprendizagem da aritmética, o cérebro da criança enfrenta diversos desafios, tais como automatizar conexões entre as representações simbólicas e não-simbólicas de numerosidade, integrar as representações simbólicas aos processos de raciocínio aditivo e multiplicativo, desenvolver um estoque de fatos aritméticos, automatizar procedimentos de cálculo, monitorar a implementação dos procedimentos etc.

O desenvolvimento das habilidades de processamento numérico e cálculo depende, portanto, do estabelecimento de conexões sinápticas que não são geneticamente pré-programadas.

O mecanismo associativo que permite essa neuroplasticidade é a formação de assembleias neurais a partir da ativação repetida e contingente das representações e processos que constituirão a rede neural numérico-aritmética. Esse processo demanda instrução e prática deliberada.

As evidências dos estudos de neuroplasticidade fundamentam empiricamente a eficácia do modelo de prática deliberada na aprendizagem da aritmética simbólica.

Vitor Geraldi Haase

Professor Titular do Departamento de Psicologia da UFMG
Coordenador do Laboratório de Neuropsicologia do Desenvolvimento (LND-UFMG)
Doutor em Psicologia Médica, mestre em Lingüística Aplicada, médico com residência em Neurologia e Neuropediatria

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