Discalculia

como transtorno de aprendizagem na matemática

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Vamos discutir sobre como o transtorno discalculia é percebido por especialistas e professores de matemática da educação básica, trazendo relatos e experiências.

A discalculia é um transtorno de aprendizagem que afeta a capacidade de compreender e manipular números e conceitos matemáticos. Esse transtorno pode trazer dificuldades para o desenvolvimento acadêmico, profissional e pessoal dos indivíduos que o apresentam. Neste texto, serão abordados os aspectos científicos, experimentais e históricos da discalculia, os principais autores e obras sobre o tema, as formas de diagnóstico e intervenção pedagógica e alguns exemplos práticos de aplicação da matemática para pessoas com discalculia.

  1. Aspectos científicos

A discalculia é considerada uma desordem neurológica específica que interfere na aquisição e no processamento das habilidades matemáticas. Segundo a Classificação Internacional de Doenças (CID-10), a discalculia é classificada como um transtorno específico do desenvolvimento aritmético (F81.2), caracterizado por um déficit na capacidade de realizar operações aritméticas básicas, como adição, subtração, multiplicação e divisão, que não pode ser explicado por deficiência intelectual, distúrbios sensoriais ou escolarização inadequada.

A discalculia pode ter origens genéticas, ambientais ou mistas. Alguns estudos sugerem que a discalculia está associada a alterações em áreas cerebrais relacionadas ao processamento numérico, como o lobo parietal inferior, o giro angular e o sulco intraparietal. Essas áreas são responsáveis por funções como a percepção de quantidades, a comparação de magnitudes, o cálculo mental e a memória de trabalho numérica. Além disso, a discalculia pode estar relacionada a outros transtornos de aprendizagem, como a dislexia, a disgrafia e o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).

A discalculia pode se manifestar de diferentes formas e graus, dependendo das características individuais de cada pessoa. Alguns dos sintomas mais comuns da discalculia são dificuldade:

  • para reconhecer e nomear números;
  • para contar objetos, dedos ou sequências numéricas;
  • para compreender os princípios do sistema decimal e do valor posicional dos algarismos;
  • para realizar cálculos mentais ou escritos;
  • para memorizar fatos aritméticos, como tabuadas ou fórmulas;
  • para estimar quantidades ou medidas;
  • para resolver problemas matemáticos que envolvem raciocínio lógico ou abstrato;
  • para compreender conceitos geométricos ou espaciais;
  • para interpretar gráficos, tabelas ou dados estatísticos;
  • para lidar com dinheiro, tempo ou calendário.
  • Aspectos experimentais e históricos

O termo discalculia foi cunhado em 1949 pelo psiquiatra tcheco Ladislav Kosc, que o definiu como “uma dificuldade estrutural na matemática que resulta de uma imperfeição do desenvolvimento genético”. No entanto, os primeiros relatos de casos de pessoas com dificuldades em matemática datam do século XIX. Em 1891, o neurologista francês Jules Dejerine descreveu o caso de um homem que perdeu a capacidade de ler números após uma lesão cerebral. Em 1925, o psicólogo alemão Alfred Binet identificou crianças com baixo rendimento em aritmética, mas sem outras deficiências cognitivas.

A partir da década de 1960, com o avanço das neurociências e da psicologia cognitiva, surgiram diversas pesquisas sobre as bases cerebrais e cognitivas da discalculia. Um dos pioneiros nesse campo foi o neurologista canadense Alfonso Caramazza, que estudou pacientes com acalculia adquirida, ou seja, a perda da habilidade matemática após uma lesão cerebral. Caramazza propôs um modelo de processamento numérico que envolve três componentes: o léxico aritmético, o algoritmo aritmético e o sistema de representação numérica. Segundo esse modelo, a discalculia pode resultar de um déficit em qualquer um desses componentes.

Outro pesquisador importante na área da discalculia foi o psicólogo suíço Jean Piaget, que desenvolveu uma teoria sobre o desenvolvimento cognitivo das crianças. Piaget propôs que a aprendizagem matemática envolve quatro estágios: o sensório-motor (de 0 a 2 anos), o pré-operatório (de 2 a 7 anos), o operatório concreto (de 7 a 12 anos) e o operatório formal (a partir dos 12 anos). Em cada estágio, as crianças adquirem novas habilidades e conceitos matemáticos, como a conservação de quantidades, a reversibilidade das operações, a classificação e a seriação dos objetos, a noção de número, a proporcionalidade e a abstração. Piaget sugeriu que as dificuldades em matemática podem estar relacionadas a um atraso ou uma regressão no desenvolvimento cognitivo.

Atualmente, existem diversas linhas de pesquisa sobre a discalculia, que abordam aspectos como a genética, a neuroimagem, a cognição, a educação e a intervenção. Alguns dos pesquisadores mais renomados nesse campo são: Brian Butterworth, da University College London; Stanislas Dehaene, do Collège de France; Daniel Ansari, da University of Western Ontario; Nancy Jordan, da University of Delaware; e David Geary, da University of Missouri.

  • Principais autores e obras sobre discalculia

Existem vários autores e obras que tratam do tema da discalculia, tanto do ponto de vista teórico quanto prático. A seguir, são apresentados alguns dos mais relevantes:

  • Brian Butterworth é um dos maiores especialistas em discalculia do mundo. Ele é professor emérito de psicologia cognitiva na University College London e autor do livro “The Mathematical Brain” (O cérebro matemático), publicado em 1999. Nesse livro, ele defende a existência de um módulo cerebral específico para o processamento numérico, chamado de “gerador de números”. Ele também propõe um teste para diagnosticar a discalculia, chamado de “Teste de Conhecimento Numérico Básico” (Basic Number Skills Test).
  • Stanislas Dehaene é um neurocientista francês que estuda os mecanismos cerebrais da cognição humana. Ele é professor no Collège de France e autor do livro “The Number Sense” (O sentido do número), publicado em 1997. Nesse livro, ele apresenta uma teoria sobre como o cérebro humano representa e manipula os números. Ele também descreve as bases neurais da discalculia e as formas de estimular o desenvolvimento do sentido numérico nas crianças.
  • Daniel Ansari é um psicólogo canadense que investiga as bases neurais e cognitivas da aprendizagem matemática. Ele é professor na University of Western Ontario e autor de vários artigos científicos sobre discalculia. Ele também coordena um projeto internacional chamado “Numerical Cognition Laboratory” (Laboratório de Cognição Numérica), que reúne pesquisadores de diferentes países para estudar os aspectos biológicos, culturais e educacionais da matemática.
  • Nancy Jordan é uma educadora norte-americana que se dedica ao estudo das dificuldades de aprendizagem em matemática. Ela é professora na University of Delaware e autora do livro “Number Sense Interventions” (Intervenções no sentido numérico), publicado em 2010. Nesse livro, ela apresenta um programa de intervenção baseado em evidências para ajudar crianças com dificuldades em matemática. O programa envolve atividades lúdicas e estratégias pedagógicas para desenvolver o sentido numérico, a fluência aritmética e o raciocínio matemático.
  • David Geary é um psicólogo evolucionista norte-americano que estuda as origens biológicas e culturais da matemática. Ele é professor na University of Missouri e autor do livro “Mathematical Disabilities:

Referência Bibliográfica

  • ANSARI, D. The neural correlates of symbolic and nonsymbolic numerical magnitude processing in children. In: BERCH, D. B.; MIZZARO, M. M. (Ed.). Mathematical learning disabilities: advances in basic research and implications for practice. Baltimore: Paul H. Brookes Publishing Co., 2007. p. 49-66.
  • BUTTERWORTH, B. The mathematical brain. London: Macmillan, 1999.
  • CARAMAZZA, A.; MCCLOSKEY, M. Acalculia and dyscalculia: neuropsychological studies. In: DELLA SALA, S. (Ed.). Handbook of clinical and experimental neuropsychology. Hove: Psychology Press, 1998. p. 339-364.
  • DEHAENE, S. The number sense: how the mind creates mathematics. New York: Oxford University Press, 1997.
  • GEARY, D. C. Mathematical disabilities: reflections on cognitive, neuropsychological, and genetic components. Learning and Individual Differences, v. 12, n. 1, p. 61-70, 2000.
  • JORDAN, N. C.; DYSON, N.; KAPLAN, D.; RABINOWITZ, S. Number sense growth in kindergarten: a longitudinal investigation of children at risk for mathematics difficulties. Child Development, v. 80, n. 2, p. 430-442, 2009.
  • JORDAN, N. C.; HANICH, L. B.; KAPLAN, D. A number sense intervention for low-income kindergartners at risk for mathematics difficulties. Journal of Learning Disabilities, v. 38, n. 4, p. 388-399, 2005.
  • JORDAN, N.C.; KAPLAN,D.; OLÁH,L.N.; LOCUNIOLO,J.A.Número de intervenções de sentido para crianças em risco de dificuldades de matemática: um estudo longitudinal randomizado controlado.Journal of Educational Psychology,v .98,n .4,p .686-700 ,2006.
  • JORDAN,N.C.; KAPLAN,D.; RABINOWITZ,S.; LOCUNIOLO,J.A.Número de intervenções de sentido para crianças com dificuldades de matemática: um estudo randomizado controlado de sala de aula.Journal of Educational Psychology,v .100,n .4,p .841-860 ,2008.
  • JORDAN,N.C.Number sense interventions.Guilford Press ,2010.
  • KOSC,L.Dyscalculia.Journal of Learning Disabilities,v .3,n .3,p .164-177 ,1974.
  • PIAGET,J.A psicologia da inteligência.Rio de Janeiro :Zahar ,1972.

Nota: Parte do texto foi produzida em sinergia com IA.

Vinicius Martins Varella

Doutor em Educação pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), licenciado em Pedagogia e Matemática.

Professor Adjunto da Universidade Federal da Paraíba e pesquisador nas áreas de Educação Matemática, Etnomatemática e Formação docente.

Alana Cavalcanti Alves

Graduada em Matemática pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB); pós-graduanda em Neurociência na Educação.

Professora da Rede Municipal de João Pessoa e pesquisadorana área da Discalculia.

Comentários

Aula foi muita enriquecedora (Abel do Rosário Sarmento)
Excelente momento, precisamos repetir. (Aguinaldo Antonio Rodrigues)
Excelente palestra! (Alva Valeria Machado Nascimento)
Parabéns pela construção dos saberes (Amilton de Lima Barbosa)
Venho acompanhando vários eventos realizados aí no Brasil, enquanto acompanho em Angola e tenho aprendido muito. Exemplo prático esse evento é muito enriquecedor. (André Miguel Domingos Kuzulu)
Ótima palestra! O tema é de extrema importância, pois é uma dificuldade que vai da escola. (Anne Desconsi Hasselmann Bettin)
Excelente! (Anne Kelly Tabosa Barbosa de Aguiar)
Palestra maravilhosa!!! (Aparecida De Cássia Oliveira Lima)
Apresentação incrível, muito bom. (Atos Vinicius Mendonça Alves)
Desafios cotidianos da licenciatura. (Audrey Stephanne de Oliveira Gomes)
Conhecimento (Benedito da Conceição Filho)
Excelente palestra. (César Chagas de Almeida)
Parabéns pela excelente palestra (Claudeci Duarte de Lima)
Excelente palestra, parabéns. (Cláudio Firmino Arcanjo)
Muito bom o tema (Daik do Socorro Bispo dos Santos)
Palestra maravilhosa com esse tema que é de suma importância. Parabéns! (Danilene Alves Torquato de Mendonça)
Excelente palestra. Não conhecia nada sobre o assunto e já me inspirou a pesquisar e levar e tema pra minha universidade. (Dayse dos Santos Rocha)
Ótima palestra para desconstruir preconceitos e esclarecer (Felipe Ramos Costa)
Excelente palestra. (Fernando Vasconcelos da Rocha.)
Excelente tema e palestra. Parabéns! (Flávio Maximiano da Silva Rocha)
A palestra sobre Discalculia na aprendizagem da matemática foi extremamente esclarecedora e informativa. O palestrante demonstrou um profundo conhecimento sobre o assunto, tornando o tema acessível e compreensível para todos os participantes. Sua abordagem empática e exemplos práticos enriqueceram ainda mais a apresentação. Os honorários do palestrante são um elogio merecido pelo seu excelente trabalho na disseminação desse importante conhecimento. (Francisca Giselle Alves da Silva)
Palestra maravilhosa, parabéns professores Vinícius e professora Alana! (Francisca Maria Mendes de Souza Macedo)
Um momento para desmistificar a realidade da sala de aula e melhorar o relacionamento com o aluno. (Francisco Isidro Pereira)
Parabéns, excelente a palestra, muito aprendizado! (Hailton David Lemos)
Ótima palestra (Hiago Luiz Da Silva)
Excelente tema e palestra (Ivanildo da Cunha Ximenes)
A realidade das escolas brasileiras é bem diferente uma das outras. Não existem especialistas no dia a dia dos alunos para identificar os transtornos de aprendizagem e muitos alunos levam esses problemas para a vida inteira. (Jaqueline de Assis Carvalho)
Gostaria de enfatizar a minha satisfação e alegria em poder ter participado dessa tão seleta Palestra, de alto nível. Muito obrigado à Academia Cearense de Matemática. (Jefte Dodth Telles Monteiro)
Excelente palestra. (José Jânio Ferreira dos Santos)
Ótimo curso! (José Jonas da Hora Dias)
Ótima aula (Josefa Elizabete Lucena Rodrigues Alves)
Muito proveitoso (Joylsa Batista de Moura)
O evento foi extremamente maravilhoso, não tinha conhecimento sobre o assunto, mas agora irei ter um olhar mais atencioso para meus alunos. (Kindelly Ianna Reinaldo de Lima)
Excelente apresentação! (Laelson de Lira Silva)
Ótima palestra, extremamente relevante para professores em formação e não só em formação aos demais também. (Laila Ellen Saraiva Costa)
Excelente a palestra. (Lucas Emanuel De Oliveira Maia)
Muito boa palestra. É um assunto que deve ser levado a sério.
Parabéns. (Lucia dos Santos Bezerra de Farias)
Muito boa palestra, muito elucidadora sobre temática tão importante!!!! (Luiz José da Silva)
Temática oportuna, tratamento com clareza e experiências desafiadoras. Continuem nos ajudando com as experiências escolares. (Marisol Vieira Melo)
Obrigado aos professores Vinicius e Alana! É a ACM nos formando com informações tanto da mente quanto do corpo! (Maxwell Gonçalves Araújo)
Parabéns pela palestra, excelente temática! Super pertinente para nosso crescimento profissional e progresso educacional. (Michael Douglas Batista De Araújo)
Brilhante!! professores Vinicius Varella e Alana Alves. Com que delicadeza vocês tratam um problema extremamente complexo. Expresso minha Gratidão pela palestra ministrada que abrilhantou novos conhecimentos. Nós da Academia Cearense de Matemática, apresentamos a nossa elevada Gratidão, esperando tê-los a alegria de recebê-los em outras oportunidades. Obrigado. (Miron Menezes Coutinho)
Palestra maravilhosa. Inclusive, tenho um colega que vai tratar da discalculia no TCC dele. Mandei o link da palestra, mas infelizmente não o vi presente. Mas sei que seria de enorme valia para ele também. (Naftali Morais Silva)
Importante tema para a discussão. (Neomar Battisti)
Uma palestra maravilhosa e enriquecedora feita pelos professores Vinicius e Alana. Essa palestra serve para se mudar o olhar quanto ao aluno que parece desinteressado. Que venham mais palestras como essa para detalhar a forma de interpretar a escrita em provas e abordar as pesquisas atuais e novas metodologias. (Paulo Sérgio Sombra da Silva)
Ótimaaa (Rebeca Barbosa da Silva Pereira)
Brilhante palestra (Ricardo Alves de Sousa)
Ótima apresentação de um Tema atual e relevante para auxiliar os estudantes em sala de aula! (Rosa Elvira Quispe Ccoyllo)
Excelente palestra, parabéns pela iniciativa. (Samuel Francisco Huf)
Conteúdo enriquecedor (Sara Jamily Firmino da Silva)
Muito boa a palestra. (Sinara Santos de Oliveira Silva)
Palestra de tremenda e importante contribuição para a formação continuada e para quem está também na formação inicial para a prática docente. Entender um pouco mais sobre os processos que envolvem a educação e os diversos transtornos que podemos identificar. No caso da discalculia, é interessante para que mais professores conheçam sobre e tenham um olhar atento as nossas crianças. (Thaís Fernanda Silva Gomes)
Incrível palestra (Thomas Petry)
Palestra muito boa. (Tiago Francisco da Silva)
Uma palestra muito informativa! Bastante importante para minha formação como licencianda de Matemática. Uma salva de palmas para a professora Alana, que tem uma fala muito boa e clara. (Yasmin Ferreira Carlos)

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