O ensino de ciências para Educação das Relações Étnico-Raciais: reflexões e propostas a partir da Sequência Didática
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Informações: acm@acm-itea.org
Posto isso, além do Ensino de Química, propiciam-se também reflexões para pensar o ensino de outras áreas de conhecimento, como a Matemática, a Física, … a partir das produções científico-tecnológicas desses povos. Justifica-se essa temática pela inserção da Lei 10.639/2003, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB/96), para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira” nos diversos níveis de ensino/formação e áreas de conhecimento.
A importância desse tema se ancora no racismo ainda presente no contexto escolar, o qual frequentemente tem apresentado aos estudantes uma história africana que se inicia nos navios negreiros, se apresentando como traço fundamental constitutivo da identidade ancestral negra.
Portanto, possibilita o conhecimento de estudos que discutem a existência dessas produções científico-tecnológicas africanas milenares em vários campos das ciências e principalmente pelo fato de nós, profissionais da Educação e autoridades constituintes, nos caracterizarmos como um dos responsáveis pela execução da referida lei nas instituições de ensino, sendo-nos atribuídos contribuir para mudar essa narrativa e contexto racista.
História
A Sequência Didática (SD) emerge no final da década de 70, na França, impulsionada por um movimento de renovação pedagógica. Autores como Jean-Pierre Brun, Guy Brousseau e Michel Fayol despontam como pioneiros, buscando superar o ensino tradicional e centrado no professor. A SD se configura como uma alternativa inovadora, inspirada em concepções socio-construtivistas e histórico-culturais da aprendizagem, que reconhecem o aluno como protagonista de seu processo de conhecimento.
Ao século XX, que surgem contribuições significativas de diversos teóricos da educação. Autores como Jean Piaget, Lev Vygotsky e Jerome Bruner fundamentaram conceitos-chave que embasam o desenvolvimento de sequências didáticas, como a importância da interação social no processo de aprendizagem e a construção do conhecimento pelo sujeito. Nesse contexto, a obra “A Formação do Espírito Científico”, de Gaston Bachelard, influenciou a compreensão do papel das sequências didáticas na construção do conhecimento científico.
A evolução das práticas pedagógicas e a necessidade de adaptar o ensino aos novos contextos sociais e tecnológicos impulsionaram o desenvolvimento da Sequência Didática. Autores contemporâneos, como José Carlos Libâneo e Antônio Nóvoa, destacam a importância de estratégias de ensino que promovam a participação ativa dos alunos e a contextualização dos conteúdos. Nesse sentido, a obra “Didática”, de José Carlos Libâneo, oferece subsídios teóricos para a elaboração de sequências didáticas eficazes.
Aspectos Científicos
A abordagem científica da Sequência Didática se baseia em teorias da aprendizagem e da cognição. Teóricos como Piaget, Vygotsky e Ausubel contribuíram com fundamentos que embasam a elaboração de sequências didáticas que consideram a progressão do conhecimento do aluno e sua relação com os conteúdos. Segundo Ausubel, a aprendizagem significativa ocorre quando o novo conhecimento se relaciona de maneira não arbitrária e substantiva com a estrutura cognitiva do indivíduo.
Dessarte, a SD encontra suporte em diversas áreas do conhecimento, como a Psicologia Cognitiva, a Sociologia da Educação e a Didática. As teorias de Jean Piaget, Lev Vygotsky e David Ausubel influenciam o desenvolvimento da SD, destacando a importância da construção ativa do conhecimento, da interação social e da zona de desenvolvimento proximal. A SD se fundamenta em princípios como a progressão lógica dos conteúdos, a articulação entre teoria e prática, a avaliação formativa e a consideração das diferentes necessidades dos alunos.
A aplicação prática dos princípios científicos da Sequência Didática envolve a elaboração de atividades que promovam a construção ativa do conhecimento pelos alunos. Estratégias como problematização, investigação e discussão de temas contextualizados são fundamentais para estimular a reflexão e a construção de significados pelos estudantes.
Autores como Maria Helena Moura Neves, em “A Construção do Saber”, oferecem subsídios teóricos para a implementação de sequências didáticas que promovam a aprendizagem significativa.
Contextos Experimentais
A SD se caracteriza pela experimentação de diferentes metodologias e recursos didáticos. O uso de jogos, atividades em grupo, projetos de pesquisa, simulações e tecnologias digitais enriquecem o processo de aprendizagem e promovem a autonomia e o engajamento dos alunos. A SD incentiva a investigação, a criatividade e a resolução de problemas, preparando os alunos para os desafios do mundo contemporâneo.
A abordagem experimental na Sequência Didática prioriza a vivência prática dos conteúdos, promovendo a investigação e a experimentação pelos alunos. Autores como John Dewey e Lev Vygotsky destacam a importância das atividades práticas no processo de aprendizagem, enfatizando o papel da experiência como base para a construção do conhecimento. Nesse sentido, projetos como o “Aprender Fazendo”, de Seymour Papert, propõem uma abordagem pedagógica centrada na resolução de problemas e na construção colaborativa do conhecimento.
A implementação de projetos experimentais na Sequência Didática requer a articulação entre teoria e prática, proporcionando aos alunos a oportunidade de aplicar os conhecimentos adquiridos em situações reais. Estratégias como a resolução de problemas autênticos e a realização de experimentos científicos incentivam a investigação e o pensamento crítico. Autores como Paulo Freire, em “Pedagogia da Autonomia”, ressaltam a importância de práticas pedagógicas que estimulem a curiosidade e a criatividade dos alunos.
Aspectos de Aplicações Práticas da Sequência Didática
A aplicação prática da Sequência Didática se manifesta em diversos contextos educacionais, abrangendo desde o ensino fundamental até o ensino superior. Projetos como “Jovens Empreendedores: Primeiros Passos”, desenvolvido pelo Sebrae, propõem uma sequência didática voltada para o desenvolvimento de competências empreendedoras entre estudantes do ensino médio. Através de atividades práticas, os alunos aprendem conceitos de gestão, marketing e finanças, aplicando-os na criação de seus próprios negócios simulados.
Outro exemplo de aplicação prática da Sequência Didática é o projeto “Cidade Educadora”, que tem como objetivo promover a interdisciplinaridade e a participação cidadã dos alunos. Nesse projeto, os estudantes são incentivados a investigar problemas reais de sua comunidade, propondo soluções criativas e sustentáveis. A abordagem pedagógica adotada favorece a integração entre diferentes áreas do conhecimento e o engajamento dos alunos em questões sociais.
Um terceiro exemplo é o projeto “Leitura em Foco”, que utiliza a Sequência Didática como base para o desenvolvimento de habilidades de leitura e interpretação de textos. Através de atividades sequenciadas, os alunos são estimulados a refletir sobre os diversos aspectos de um texto, como o contexto histórico, o gênero textual e as intenções do autor. Essa abordagem contribui para o desenvolvimento da competência comunicativa e crítica dos estudantes.
Transformando a Teoria em Ação
A SD se aplica a diferentes áreas do conhecimento e níveis de ensino, desde a educação infantil até o ensino superior. A seguir, três exemplos práticos demonstram a versatilidade da SD:
Exemplo 1: Na disciplina de História, uma SD pode abordar a Revolução Industrial, utilizando como recursos documentários, mapas, dramatizações e visitas a museus.
Exemplo 2: Em Matemática, uma SD pode trabalhar o conceito de frações, utilizando jogos educativos, atividades culinárias e manipulação de materiais concretos.
Exemplo 3: Na disciplina de Língua Portuguesa, uma SD pode desenvolver a produção textual, utilizando diferentes gêneros textuais, como contos, poemas e notícias, com a criação de um jornal escolar.
Relações Étnico-Raciais na Sequência Didática
As relações étnico-raciais na Sequência Didática emergem como uma questão crucial para promover a valorização da diversidade e o combate ao racismo estrutural na educação. Autores como Kabengele Munanga e Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva destacam a importância de abordagens pedagógicas que reconheçam e valorizem as contribuições das diferentes etnias e culturas presentes na sociedade brasileira. Nesse contexto, a Lei 10.639/03, que instituiu a obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena nas escolas, representa um marco na promoção da igualdade racial na educação.
A implementação de práticas pedagógicas inclusivas e antirracistas na Sequência Didática exige o reconhecimento e enfrentamento dos preconceitos e estereótipos presentes no ambiente escolar. Estratégias como a valorização das narrativas e produções culturais das comunidades negras e indígenas, bem como a problematização das desigualdades sociais e raciais, são fundamentais para promover uma educação mais equitativa e emancipatória. Autores como Nilma Lino Gomes, em “Diversidade na Educação: Reflexões e Experiências”, oferecem subsídios teóricos e práticos para a promoção de uma educação antirracista e inclusiva na Sequência Didática.
Uma Abordagem Necessária na Sequência Didática
A SD incorpora a perspectiva da diversidade e da inclusão, promovendo o respeito às diferenças e combatendo a discriminação racial. A abordagem crítica das relações étnico-raciais na SD contribui para a formação de cidadãos conscientes e atuantes na construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
1. Conteúdos e Abordagens: A SD pode abordar temas como a história da África e da diáspora africana, a cultura afro-brasileira, o racismo estrutural e as desigualdades raciais na sociedade brasileira.
2. Recursos Didáticos: A SD pode utilizar livros, filmes, músicas, obras de arte e outros recursos que promovam a reflexão crítica sobre as relações étnico-raciais.
3. Reflexão e Ação: A SD incentiva o diálogo intercultural, o respeito à diversidade e a construção de uma sociedade mais justa e igualitária para todos.
Referências Bibliográficas
- Alves, Nilda. Sequência Didática: Uma Proposta para o Ensino. São Paulo: Cortez, 2001.
- Ausubel, D. P. (2003). Psicologia educacional. LTC.
- Brousseau, Guy. Teoria das Situações Didáticas. São Paulo: Cortez, 1999.
- Candau, Vera Maria. Aprender e Ensinar: Um Diálogo com as Teorias de Aprendizagem. Rio de Janeiro: Vozes, 2013.
- Demo, Pedro. Educar pela Pesquisa. Campinas: Autores Associados, 2001.
- Freire, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
- Gomes, N. L. (2006). Diversidade na Educação: Reflexões e Experiências. Autêntica Editora.
- Gomes, Nilma Lino. Educação para as Relações Étnico-Raciais: Uma Abordagem Curricular para a Educação Básica. Brasília: MEC, 2006.
- Libâneo, J. C. (1994). Didática. Cortez.
- Macedo, Elizabeth; Silva, Tomaz Tadeu da. Educação e Relações Étnico-Raciais: Uma Abordagem Histórico-Científica. São Paulo: Cortez, 2004.
- Moreira, Antonio Flávio Barbosa. Currículo, Conhecimento e Cultura. São Paulo: Cortez, 2007.
- Neves, M. H. M. (2004). A construção do saber. Papirus.
- Papert, S. (2008). Aprender fazendo: os projetos construcionistas de Seymour Papert. Artmed.
- Perrenoud, Philippe. Dez Novas Competências para Ensinar. Porto Alegre: Artmed, 2000.
- Silva, P. B. G., & Munanga, K. (2007). Superando o racismo na escola. Editora Garamond.
- Zabala, Antoni. Didática da Ação Moral: Dilemas Comuns e Propostas de Intervenção. Porto Alegre: Artmed, 2002.
Nota: Parte do texto foi produzida em sinergia com IA.
Hedylady Santiago Machado
Graduada em Licenciatura em Química pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), campus de Alegre (2018).
Mestre em Ensino, Educação Básica e Formação de Professores pelo PPGEEDUC-UFES (2020). Especialista em Educação e Divulgação em Ciências (EDIV) pelo IFES, campus de Vila Velha (2022).
Possui Curso Técnico Profissionalizante em Agroindústria pelo IFES, campus de Alegre (2009).
Participante do grupo de pesquisa LiEQui, USP e do grupo de pesquisa/estudo GEERE, UFES.
Pesquisadora iniciante no projeto “Impactos Sociais e Econômicos resultantes da alteração da qualidade de água captada do rio Doce para usos diversos devido ao rompimento da barragem de Fundão em Mariana, MG”, desenvolvido no Interáguas junto a uma equipe de pesquisadores da UFES do campus de Goiabeiras, coordenado e executado no âmbito da ANA (2021/2023).
Atuou como professora de Química voluntária no IFES, campus de Alegre (2023).
Atualmente está atuando como professora de Química na E. E. E. F. M. “Professor Pedro Simão” (2023).
Possui experiência com o desenvolvimento de Pesquisa Qualitativa utilizando como aporte metodológico de análise de dados a Teoria da Análise de Conteúdo (AC) e a Teoria Fundamentada nos Dados (TFD), além de, experiência com utilização de Softwares para organização, construção e análise de Dados Qualitativos.
Comentários
Um tema muito sensível, tanto no aspecto da sua pertinência quanto no aspecto da aplicabilidade efetiva. Obrigado pela inspiração e exemplo. (André Stefanini Jim) |
Boa apresentação! (Bruno Ferreira Pinheiro) |
Parabéns pela excelente palestra (Cláudio Firmino Arcanjo) |
Uma apresentação rica de informações nos levando a refletir muito sobre diversos olhares. Valorizar e identificar, por exemplo, os conhecimentos dos povos africanos. Parabéns pelo evento. (Claudio Roberto Barrozo da Silva) |
A palestra foi excelente e ao mesmo tempo instigante, pois trouxe um tema difícil de trabalhar nas escolas públicas de ensino básico e ao mesmo tempo apresenta um caminho para que isso seja feito, que são as Sequencias Didáticas a partir da ERER’s. Acho difícil trabalhar esse tema, pois os próprios professores têm dificuldades em aceitar questões pontuais de racismo, muitas vezes substituindo a palavra racismo por bullying, enfim agradeço também o retorno sobre como incluir no currículo essas questões. Parabéns professora Hedylady por sua palestra! (Débora Pinto dos Santos) |
Muito boa a explanação (Erick Lucas Correia Cordeiro) |
Excelente tema. Parabéns pela brilhante exposição. Parabéns!!! (Flávio Maximiano da Silva Rocha) |
Uma palestra altamente provocativa, inclusiva e uma inspiração educativa antiracista (Francisco Isidro Pereira) |
Boa Palestra! (Galvina Maria de Souza) |
Ótima Palestra 👏🏻👏🏻 racismo existe e precisamos debater (Geísa Ferreira de Sousa) |
Excelente tema e apresentação. (Ivanildo da Cunha Ximenes) |
A temática sobre o ensino de ciências para educação das relações étnico-raciais é muito importante para combater o racismo na sala de aula e mostrar as grandes contribuições que os povos africanos trouxeram ao mundo. Parabéns professora Hedylady Machado. (Jaqueline de Assis Carvalho) |
Ótima aula (João Marcos Soares Borborema) |
Excelente a palestra, foi de suma importância para a minha formação (José Ferreira da Silva Júnior) |
Muito importante a palestra da professora Hedylady ,quando mostra que o povo africano contribui significantemente para a ciência. Parabéns professora. (Lucia dos Santos Bezerra de Farias) |
Boa palestra, muitas ideias (Luiz José da Silva) |
Ótima palestra (Maria Verônica Oliveira Batista) |
Excelente Palestra! (Maxwell Gonçalves Araújo) |
Palestra muito importante para repensar as aulas, mostrando as contribuições africanas para a sociedade. (Paulo Sérgio Sombra da Silva) |