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Pode-se afirmar que a dislexia (transtorno na aprendizagem da leitura pela dificuldade no reconhecimento da correspondência entre os símbolos gráficos e os fonemas, bem como na transformação de signos escritos em signos verbais e na leitura dos números no cálculo matemático) nas escolas brasileiras ainda é uma causa desconhecida por muitos profissionais da educação por falta de conhecimento, informações e por se ter ainda, na maioria das vezes, uma visão errônea em relação aos diversos olhares para as dificuldades que colocamos ou vemos dentro da formação individual do alunado que tem dificuldades na leitura (disgrafia), na escrita (disortografia) e da discalculia na matemática, tornando-se inadequada para a formação de leitor literário e no letramento matemático. Ressalto, que o desconhecimento das causas da dislexia ainda é o principal motivo do descaso e equívocos que deixam os alunos que tem dificuldades de decodificação de signos na escrita e nos cálculos passar despercebido dentro da produção individualizada de novos conhecimentos na sua formação. Portanto, ainda existirá equívocos na escolha do material para serem utilizados pelos educadores no desenvolvimento de suas metodologias dentro das salas de aula por falta de informação e de conhecimento formativo sobre a criança, o adolescente e o adulto disléxico.
1. Evolução Histórica
A primeira descrição formal da dislexia foi feita em 1887 pelo oftalmologista alemão Rudolf Berlin, que utilizou o termo para descrever dificuldades de leitura em crianças que, de outra forma, pareciam normais. Seu trabalho foi seguido por estudos de James Hinshelwood, um oftalmologista britânico que, no início do século XX, sugeriu que a dislexia era uma condição neurológica associada à dificuldade de decodificar palavras. Ele também foi um dos primeiros a propor que a condição tinha uma base hereditária (Hinshelwood, 1917).
Outro avanço histórico significativo ocorreu nas décadas de 1960 e 1970, quando Samuel T. Orton, um neuropsiquiatra americano, propôs a teoria de que a dislexia era causada por uma falta de dominância cerebral. Orton acreditava que os cérebros dos indivíduos disléxicos não conseguiam estabelecer uma dominância clara de um hemisfério sobre o outro, o que resultava em dificuldades de leitura (Orton, 1966). Esse modelo foi fundamental para a compreensão moderna da dislexia como uma disfunção neurocognitiva.
A partir dos anos 1980, estudos com tecnologias de neuroimagem, como ressonâncias magnéticas, começaram a proporcionar evidências sobre os padrões atípicos de ativação cerebral em pessoas com dislexia. Pesquisadores como Sally Shaywitz, nos Estados Unidos, trouxeram contribuições significativas ao comprovar que a dislexia está relacionada a déficits no processamento fonológico, afetando a capacidade de mapear sons para símbolos (Shaywitz, 1998).
2. Perspectivas Científicas
As atuais perspectivas científicas sobre a dislexia estão centradas em uma visão multidimensional, que abrange aspectos neurológicos, genéticos e ambientais. Estudos como o de Pennington et al. (2001) mostram que a dislexia é altamente hereditária, com genes específicos, como o DCDC2 e o KIAA0319, sendo associados ao transtorno. Essas descobertas sugerem que, embora fatores ambientais possam influenciar o desenvolvimento da leitura, a predisposição genética desempenha um papel crucial.
No campo das neurociências, pesquisadores têm investigado a forma como o cérebro dos indivíduos disléxicos processa informações. A teoria do déficit fonológico ainda é a mais amplamente aceita, sugerindo que pessoas com dislexia têm dificuldades em segmentar e manipular sons na linguagem. No entanto, estudos recentes indicam que déficits visoespaciais também podem estar presentes em alguns casos, ampliando a complexidade do transtorno (Snowling, 2013).
Além disso, o papel da plasticidade cerebral tem sido estudado para compreender a capacidade do cérebro de compensar ou adaptar-se às dificuldades inerentes à dislexia. Intervenções educativas intensivas têm mostrado efeitos positivos em reorganizar os circuitos cerebrais envolvidos na leitura, oferecendo esperança para intervenções mais eficazes (Gabrieli, 2009). Essas descobertas têm impulsionado novas abordagens pedagógicas e terapêuticas.
3. Enfoques Experimentais
Diversas abordagens experimentais têm sido desenvolvidas para melhor compreender a dislexia e desenvolver intervenções eficazes. Um dos enfoques mais antigos e influentes foi o uso de testes de percepção fonológica para identificar os déficits específicos de crianças com dislexia. Esses testes, baseados na teoria do déficit fonológico, foram aplicados de forma extensiva nos anos 1990 e se tornaram uma ferramenta padrão no diagnóstico de dislexia (Wagner & Torgesen, 1987).
Outras metodologias experimentais envolvem a aplicação de tecnologias de neuroimagem para observar como o cérebro processa a leitura em tempo real. Usando ressonâncias magnéticas funcionais (fMRI), pesquisadores como Paulesu et al. (2001) identificaram áreas do cérebro que apresentam menor ativação em indivíduos disléxicos, como o giro angular e o giro temporal superior, áreas tradicionalmente associadas ao processamento da linguagem. Essas descobertas contribuíram para o desenvolvimento de novos métodos diagnósticos e terapêuticos.
Além dos enfoques neurológicos, os experimentos em linguística cognitiva têm explorado como a dislexia afeta o processamento semântico e sintático da linguagem. Estudos conduzidos por Perfetti e McCutchen (1987) indicam que as dificuldades na leitura não se restringem apenas ao nível fonológico, mas também ao processamento mais amplo da compreensão textual, sugerindo a necessidade de intervenções que abordem diferentes níveis da linguagem.
4. Aplicações e Projetos Práticos
A crescente compreensão da dislexia tem levado ao desenvolvimento de diversas aplicações práticas e projetos voltados à educação e tratamento do transtorno. Uma das principais inovações tem sido a criação de softwares de leitura assistida, como o programa “Kurzweil 3000”, que utiliza tecnologia de síntese de voz para ajudar estudantes com dislexia a acessarem textos de forma mais eficaz (Raskind, 2008).
Essa tecnologia permite que os alunos escutem textos enquanto acompanham visualmente, facilitando a decodificação.
Outra aplicação prática é o uso de metodologias de ensino multisensorial, como o Método Orton-Gillingham, que integra estímulos visuais, auditivos e táteis para ajudar os alunos com dislexia a aprenderem a ler (Ritchey & Goeke, 2006). Essas abordagens têm demonstrado ser altamente eficazes na reeducação de crianças e adolescentes com dificuldades de leitura.
Nos últimos anos, surgiram também projetos de intervenção precoce para identificar e tratar a dislexia em crianças em idade pré-escolar. O projeto “Dyslexia Early Screening Test” (DEST), por exemplo, utiliza uma série de testes rápidos para identificar crianças em risco de dislexia antes mesmo que elas comecem a ler formalmente (Fawcett & Nicolson, 2004). Esse tipo de intervenção permite que os professores adaptem suas práticas pedagógicas desde cedo, prevenindo dificuldades mais sérias no futuro.
5. Exemplos de Aplicações e Projetos
Entre os principais exemplos de aplicações práticas no tratamento da dislexia, podemos destacar:
- Programa Fast ForWord: Um software que trabalha com jogos interativos para treinar a consciência fonológica e a memória de trabalho, com base em princípios neurocientíficos (Tallal, 2000).
- Leitura Guiada por Cores: Técnica que utiliza diferentes cores para destacar sílabas e palavras, facilitando o reconhecimento visual para leitores com dislexia (Fletcher, 2009).
- Método de Intervenção de Leitura Repetida: Um método que envolve a leitura de textos repetidos para melhorar a fluência de leitura e a compreensão (Therrien, 2004).
- Plataforma Read&Write: Um aplicativo de suporte à leitura e escrita que fornece ferramentas de tradução e síntese de fala para auxiliar estudantes disléxicos (Williams & Lynch, 2010).
- Projeto de Ensino Assistido com Realidade Virtual (VR): Um projeto experimental que utiliza ambientes de realidade virtual para simular interações de leitura e ajudar na alfabetização de crianças com dislexia (Papanastasiou et al., 2018).
Referências Bibliográficas
FAWCETT, Angela; NICOLSON, Rod. Dyslexia Early Screening Test. 2. ed. London: The Psychological Corporation, 2004.
FLETCHER, Jack M. Dyslexia: Theory and Practice of Remedial Instruction. New York: Springer, 2009.
GABRIELI, John D. E. Dyslexia: A New Synergy Between Education and Cognitive Neuroscience. Science, v. 325, p. 280-283, 2009.
HINSHELWOOD, James. Congenital Word-Blindness. London: H. K. Lewis, 1917.
ORTON, Samuel T. Reading, Writing, and Speech Problems in Children. New York: W. W. Norton & Co., 1966.
PAULESU, Eraldo et al. A Cultural Effect on Brain Function. Nature Neuroscience, v. 4, p. 848-849, 2001.
PENNINGTON, Bruce F. et al. Brain Imaging Studies of Dyslexia. Nature Reviews Neuroscience, v. 2, p. 524-532, 2001.
RASKIND, Marshall. Assistive Technology for Reading. Journal of Learning Disabilities, v. 41, p. 387-407, 2008.
RITCHEY, Kristen D.; GOEKE, Jennifer L. Orton-Gillingham and Orton-Gillingham-Based Reading Instruction: A Review of the Literature. The Journal of Special Education, v. 40, p. 171-183, 2006.
SHAYWITZ, Sally E. Dyslexia. The New England Journal of Medicine, v. 338, p. 307-312, 1998.
SNOWLING, Margaret J. Early Identification and Interventions for Dyslexia: A Contemporary View. Journal of Research in Special Educational Needs, v. 13, p. 7-14, 2013.
TALLAL, Paula. Improving Language and Literacy is a Matter of Time. Nature Reviews Neuroscience, v. 1, p. 10-11, 2000.
THERRIEN, William J. Fluency and Comprehension Gains as a Result of Repeated Reading: A Meta-analysis. Remedial and Special Education, v. 25, p. 252-261, 2004.
WAGNER, Richard K.; TORGESEN, Joseph K. The Nature of Phonological Processing and its Causal Role in the Acquisition of Reading Skills. Psychological Bulletin, v. 101, p. 192-212, 1987.
WILLIAMS, Jenifer; LYNCH, Brian. Read&Write Software: A Technological Aid for Students with Reading Disabilities. Technology and Disability, v. 22, p. 95-103, 2010.
Nota: Parte do texto foi produzida em sinergia com IA.
Rose Cleia Maria Barros Mendes
Possui graduação em Licenciatura Plena em Pedagogia pela Universidade Paulista (2015), especialização em Psicopedagogia Clínica pela Faculdades Integradas Brasil Amazônia (2016), mestrado em Maestría Int. en Coaching y en Inteligencia Emocional Infantil y Juvenil pela Esneca Business School(2021), mestrado em Maestría Internacional en Pedagogía y Psicopedagogía Clínica pela Esneca Business School(2021) e ensino-medio-segundo-graupelo Colégio Rui Barbosa (CE)(1998). Atualmente é Professor LP da Secretaria Estadual de Educacao (PA). Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Tópicos Específicos de Educação. Atuando principalmente nos seguintes temas:psicopedagogia clinica.
Pedagoga
Pós-graduação em Psicopedagogia Clínica
Pós-graduação em Psicopedagogia ABA
Mestra Internacional en Pedagogía
Maestra Internacional en Psicopedagogía Clínica
Maestra Internacional en Coaching em Inteligencia Emocional
Doutoranda en Ciencias de la Educación
Graduanda em Psicologia
Certificação em Inteligência Emocional
Certificação em Altas Habilidades e Superdotação (AHSD)
Aplicadora ABA
ABPP/PA 2022018
CFEP 23 006 408
CBO 239425
CBO 2394-15
Lattes: http://lattes.cnpq.br/7307426784037701
Orcid: https://orcid.org/0000-0002-6929-7047
Resumo
Cléia Mendes abordou a complexidade da dislexia, destacando que suas dificuldades vão além da fala e escrita, envolvendo também aspectos neurais e hereditários. Ela enfatizou a importância da socialização e do incentivo na educação infantil para o desenvolvimento cognitivo das crianças, sugerindo que a falta de desenvolvimento da fala pode dificultar a visualização e decodificação de letras. Mendes ressaltou que fatores como a prega da língua podem impactar a escrita e a ortografia, evidenciando a necessidade de um acompanhamento cuidadoso durante a alfabetização, que deve ser contínua e adaptada ao ritmo de cada aluno.
Durante a discussão, Cléia compartilhou experiências práticas em sala de aula, como o desafio de ensinar uma aluna que confundia letras e números. Ela destacou a importância de entender as dificuldades específicas de cada aluno e de criar estratégias que ajudem na memorização correta das letras. O professor Pedro Carpi contribuiu para a conversa, ressaltando a necessidade de distinguir a dislexia de outras condições para que as abordagens pedagógicas sejam adequadas. Cléia concluiu que a empatia e a adaptação são essenciais para que alunos disléxicos superem suas dificuldades e se sintam capazes, enquanto Eliana Paixão enfatizou a importância da identificação precoce de dificuldades e do envolvimento familiar no processo educativo.
Acelino Pontes trouxe à tona a discussão sobre métodos de ensino inovadores, citando uma escola na Alemanha que permite que os alunos escolham seus projetos, sem um currículo tradicional. Cléia apoiou essa ideia, compartilhando sua experiência de que os alunos se envolvem mais quando desafiados a explorar. A conversa culminou na necessidade de uma educação inclusiva que respeite a individualidade dos alunos, promovendo a liberdade de aprendizado e valorizando os conhecimentos prévios. Apesar de dificuldades técnicas durante a apresentação de Cléia, a discussão se mostrou rica e produtiva, com todos os participantes contribuindo para repensar o sistema educacional e suas abordagens.
Comentários
Ótima palestra (Addelia Elizabeth Neyrao de Mello) |
Amei (Ana Laura Cabral da Gama) |
Parabéns pela palestra. Um olhar que é essencial para a formulação de novas diretrizes de ensino e aprendizagem. Obrigado à professora Rose Cleia. (Sou da opinião de que o professor que deve receber a ‘maior remuneração’ de todas é o professor da primeira infância, pois ele constrói a base para todos os demais professores do ciclo de ensino e aprendizagem da vida de todos nós). (André Stefanini Jim) |
Muito boa apresentação! (Bruno Ferreira Pinheiro) |
Ótima palestra (Camille Vitória Pereira Nunes) |
Excelente palestra. (Claudio Lima da Silva) |
Parabéns pelo excelente evento (Cleonis Viater Figueira) |
Ótima apresentação, parabéns aos envolvidos!! Amo todas as palestras de vocês. Extremamente organizado e bem explicado 👏🏻 (Fernanda Souto Macaubas) |
Excelente tema. Parabéns pela palestra e troca de conhecimentos. Parabéns!!! (Flávio Maximiano da Silva Rocha) |
Palestra bem interessante!! (Geanderson Nascimento Dos Reis) |
Muito bom. (Guilherme Alves da Silva) |
Parabéns, excelente! (Hailton David Lemos) |
Excelente tema e maravilhosa apresentação (Ivanildo da Cunha Ximenes) |
Parabéns professora Rose. (Jaqueline de Assis Carvalho) |
Mt boa (Jean Manoel Silva Nascimento) |
Excelente palestra (José Ferreira da Silva Júnior) |
Ótimo diálogo e apresentação de informações sobre a dislexia. (Lisiane May) |
Parabéns professora pela sua visão madura em relação a uma educação inclusiva em todos os aspectos. (Lucia dos Santos Bezerra de Farias) |
Ótima palestra! (Maria Fernanda Sodré Medrado) |
São contribuições importantes para a nossa vida como educadores. (Maria José da Silva) |
Excelente palestra! Obrigado Rose Cleia Maria Barros Mendes e a todos os envolvidos! (Maxwell Gonçalves Araújo) |
Ótima palestra (Mônica Lines Silvino Santana) |
Excelente palestra. Parabéns à professora Rose Cléia. (Odenilson Pereira Vieira) |
Boa palestra!! (Paul Lee Marques) |
Palestra excelente, me fará olhar com mais atenção meus alunos! (Pedro Henrique Monteiro Malacarne) |
Palestra muito proveitosa e bem abordada pela Professora Cleia; Agradeço tambem à excelente mediação do Professor Acelino; No exemplo que o professor fez sobre a Escola da Alemanha que ganhou o prêmio, foi um desafio e uma provocação maravilhosa a se pensar, agora como esse modelo poderia ser trazido no contexto da Educação Inclusiva, já que teríamos muitas crianças e no ensino fundamental 2 (Raimundo Carlos Lopes Maciel) |
Excelentes observações e experiências para os docentes que atuam com alunos que precisam de uma atenção especial! (Rosa Elvira Quispe Ccoyllo) |
Essa apresentação foi muito atrapalhada. Quando o palestrante não domina a tecnologia o conhecimento virtual fica comprometido. (Sandro Alves de Azevedo) |
Excelente palestra. (Sedália Santos Guedes) |
O tema trazido foi muito relevante e a reunião rica em contribuições. Agradeço e parabenizo à professora Cléia pela partilha e ao professor Acelino pela mediação! (Sofia Mendoza Teixeira) |
Quero parabenizá-la pela palestra! a forma como você conectou dados e histórias pessoais tornou tudo muito mais acessível e explicativo. (Stefany Raquel de Almeida Brito) |
Como posso acessar a formação, pois não recebi o link, fiz a inscrição mas não consigo acessar.
Talvez tenha digitado o seu endereço de e-mail de forma incorreta, motivo pelo qual a msg com o link não chegou.