Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP): uma experiência no ensino fundamental
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A Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP) tem como premissa básica o uso de problemas da vida real para estimular o desenvolvimento conceitual, procedimental e atitudinal do discente. O Professor Doutor Eli Borochovicius desenvolveu pesquisas sobre a ABP no Brasil e na Austrália – no Ensino Fundamental e no Ensino Superior – e apresentará uma perspectiva prática considerando os seus 15 anos de experiência com o uso do método.
1. Evolução histórica da ABP
A Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP) surgiu na década de 1960, na Universidade de McMaster, no Canadá, como uma alternativa à educação tradicional em cursos de medicina. O método foi desenvolvido por Howard Barrows, que propôs situações-problema como ponto de partida para a construção do conhecimento (Barrows & Tamblyn, 1980). A proposta rapidamente se disseminou para outras áreas do conhecimento e para diferentes níveis de ensino. No Brasil, a ABP foi introduzida principalmente nos anos 1990, em cursos superiores, e posteriormente chegou ao ensino básico.
Com o avançar das décadas, a ABP passou a ser considerada uma metodologia ativa fundamental na formação de alunos críticos e autônomos. Estudos de Savery e Duffy (1995) apontam a ABP como estratégia eficaz de desenvolvimento de competências cognitivas superiores. No Brasil, autores como Delizoicov e Angotti (1994) destacam a importância da contextualização do conhecimento como princípio pedagógico, o que se alinha aos fundamentos da ABP. Assim, a história da ABP reflete uma busca constante por uma educação mais significativa e centrada no estudante.
O uso da ABP no ensino fundamental é mais recente, mas demonstra potencial transformador na prática pedagógica. A implementação em escolas públicas e privadas tem mostrado resultados positivos quanto ao engajamento e à aprendizagem dos alunos (Mizukami, 2002). Programas de formação docente têm incorporado a ABP como ferramenta essencial para a reflexão sobre a prática. Com isso, a ABP ganha espaço como metodologia viável e desejável no contexto da educação básica.
2. Perspectivas científicas sobre a ABP
Do ponto de vista científico, a ABP baseia-se em teorias construtivistas da aprendizagem, principalmente as de Piaget, Vygotsky e Bruner. Piaget enfatiza a importância da atividade mental do sujeito na construção do conhecimento, algo presente no desenvolvimento autônomo exigido pela ABP (Piaget, 1972). Vygotsky contribui com a ideia de que o aprendizado é mediado socialmente, reforçando a importância do trabalho colaborativo (Vygotsky, 1984). Bruner complementa ao sugerir que o ensino deve partir de problemas reais e significativos para o aluno (Bruner, 1966).
A neurociência também oferece suporte à eficácia da ABP, ao demonstrar que a aprendizagem significativa ocorre por meio de conexões emocionais e cognitivas. Pesquisas de Immordino-Yang e Damasio (2007) mostram que emoções são essenciais para a aprendizagem efetiva. Na ABP, o envolvimento do aluno com problemas autêuticos promove esse tipo de conexão, favorecendo a memória de longo prazo. Assim, aspectos emocionais e sociais tornam-se elementos centrais na aprendizagem por problemas.
Pesquisadores como Dolmans et al. (2005) destacam que a ABP melhora a retenção do conhecimento, a motivação e a autoeficácia dos estudantes. Esses aspectos estão diretamente relacionados à capacidade de transferência do conhecimento para novas situações. A literatura aponta que a ABP desenvolve competências como pensamento crítico, colaboração e comunicação (Hmelo-Silver, 2004). Tais competências são cruciais para os desafios do século XXI.
3. Enfoques experimentais da ABP no ensino fundamental
Diversas experiências empíricas mostram que a ABP pode ser eficaz já nos anos iniciais do ensino fundamental. Um estudo conduzido por Fragelli (2009) em uma escola municipal em São Paulo mostrou que alunos do 4º ano melhoraram significativamente suas competências de resolução de problemas. O projeto abordava questões ambientais locais, promovendo o engajamento dos estudantes. O envolvimento ativo e o trabalho em grupo contribuíram para o desenvolvimento de habilidades socioemocionais.
Outro estudo relevante é o de Fernandes e Rezende (2011), que aplicaram a ABP em turmas de ciências no 5º ano. Os autores observaram aumento na participação, melhoria na capacidade de argumentação e maior interesse pelas aulas. A estrutura em pequenos grupos permitiu a exploração de diferentes perspectivas sobre um mesmo problema. Além disso, os professores relataram ganhos na qualidade das discussões em sala.
Estudos internacionais também confirmam os resultados positivos da ABP no ensino básico. Um exemplo é a pesquisa de Thomas (2000), que identificou aumento da motivação e da autonomia em estudantes do ensino fundamental nos Estados Unidos. A ABP, ao partir de problemas do cotidiano dos alunos, gera uma conexão real com o conhecimento escolar. Dessa forma, a aprendizagem torna-se mais duradoura e contextualizada.
4. Aplicações e utilidades da ABP na formação básica
A principal utilidade da ABP é transformar o aluno em protagonista de seu processo de aprendizagem. Isso exige que o estudante mobilize conhecimentos prévios, investigue, discuta e proponha soluções para problemas complexos. Essa abordagem também favorece a inclusão, pois valoriza diferentes estilos e ritmos de aprendizagem (Moran, 2013). Alunos se sentem mais motivados e reconhecidos em suas singularidades.
A ABP também contribui para o desenvolvimento de habilidades do século XXI, como pensamento crítico, resolução de problemas, comunicação e colaboração. Segundo a UNESCO (2015), essas competências são fundamentais para a formação cidadã e profissional. A escola, portanto, deve buscar metodologias que estimulem essas habilidades desde o ensino fundamental. A ABP se apresenta como alternativa eficaz para esse objetivo.
Outro aspecto relevante é a formação continuada de professores, que precisam estar preparados para atuar como mediadores do conhecimento. A mudança do modelo tradicional para um centrado no aluno requer reflexão e formação docente permanente (Perrenoud, 2000). Professores devem aprender a criar problemas autênticos e a orientar investigações significativas. Assim, a ABP também transforma a prática pedagógica.
5. Exemplos de aplicação da ABP no ensino fundamental
- Projeto “Cidade Sustentável”: Alunos do 6º ano investigam problemas urbanos de seu bairro, como lixo ou mobilidade, e propõem soluções sustentáveis com apoio de especialistas e da comunidade.
- Projeto “Energia em casa”: Estudantes do 5º ano analisam o consumo de energia em suas residências e propõem formas de redução do gasto elétrico com base em pesquisas científicas.
- Projeto “Alimentação Saudável”: Turmas do 4º ano estudam os hábitos alimentares locais e desenvolvem campanhas educativas para a comunidade escolar.
- Projeto “Histórias da Minha Gente”: Alunos do 3º ano entrevistam moradores antigos do bairro para compreender transformações sociais e culturais da região.
- Projeto “Ciência no Quintal”: Crianças do 2º ano exploram a biodiversidade de seus quintais ou jardins comunitários, aprendendo sobre meio ambiente e ciência de forma prática.
Referências bibliográficas
BARROWS, Howard S.; TAMBLYN, Robyn. Problem-Based Learning: An Approach to Medical Education. New York: Springer Publishing Company, 1980.
BRUNER, Jerome. Toward a Theory of Instruction. Cambridge, MA: Harvard University Press, 1966.
DELIZOICOV, Demetrio; ANGOTTI, Jair. Ensino de Ciências: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 1994.
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FERNANDES, Sílvia C.; REZENDE, Flávio. ABP no Ensino de Ciências: uma experiência com alunos do 5º ano. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, v. 11, n. 3, p. 59-75, 2011.
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VYGOTSKY, Lev S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984.
Nota: Parte do texto foi produzida em sinergia com IA.

Eli Borochovicius
Professor de finanças do curso de Administração e de cursos de MBAe coordenador do Desenvolvimento da Curricularização de Extensão de Mercado Financeiro e de Capitais da Escola de Economia e Negócios da PUC-Campinas.
É Doutor e Mestre em Educação pela PUC-Campinas, com estágio doutoral na Macquarie University/NSW/Austrália, patrocinado pela Australian Academy of Science, desenvolvendo pesquisa sobre o Problem-Based Learning (PBL).
Publicou artigos Qualis-Capes A1 e A2.Possui MBA em Gestão pela FGV, com módulo internacional em Empreendedorismo pelo Babson College/MA/Estados Unidos, formado em Comércio Exterior pela UNIP e Diplomado pela Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra.
Foi Head pedagógico de Edutech, trabalhou por mais de 15 anos em empresas financeiras no Brasil, foi DiretorFinanceiro (CFO) no exterior, assessor da Pró-Reitoria de Administração em duas gestões e Membro Orientador do Instituto Nacional de Investidores.
Concedeu entrevistas para programas de televisão, rádio, jornais, revistas, e portais de internet.
Atualmente participado quadro “Descomplicando a Economia” da Radio Brasil Campinas.
CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/3072482023273032