Socialização Profissional

Inscrições: https://forms.gle/FiRZPSk9zCGgU9Fc7

Informações: acm@acm-itea.org

Socialização Profissional Docente e Traços Identitários

1. Evoluções Históricas da Socialização Profissional Docente

A socialização profissional docente remonta aos primórdios da institucionalização da educação, quando os primeiros mestres assumiram um papel formal na transmissão do conhecimento. No século XIX, com a massificação da educação pública, surgiram estruturas formais para a formação de professores, destacando-se as écoles normales na França e os teacher colleges nos Estados Unidos (GOODSON, 2003). Essas instituições desempenharam um papel fundamental na padronização dos processos de formação e na construção de identidades profissionais.

No Brasil, a história da formação docente está ligada à criação das Escolas Normais, a partir de meados do século XIX, que buscaram profissionalizar e disciplinar a prática pedagógica. De acordo com Saviani (2009), esse período foi marcado por uma forte influência da pedagogia tradicional, o que modelou identidades docentes baseadas em valores como disciplina e hierarquia. Contudo, a transição para o século XX trouxe mudanças significativas, com a incorporação de abordagens progressistas inspiradas por Dewey e Freinet.

Nas últimas décadas, as transformações sociais e tecnológicas reconfiguraram a experiência docente, exigindo um repensar sobre a socialização profissional. Novos paradigmas, como o aprendizado colaborativo e a educação inclusiva, emergiram para atender às demandas de uma sociedade globalizada (HARGREAVES, 1998). Assim, a evolução da socialização docente reflete não apenas avanços no campo educacional, mas também as dinâmicas sociopolíticas mais amplas.

2. Perspectivas Científicas sobre Traços Identitários na Docência

As perspectivas científicas sobre os traços identitários na docência englobam uma variedade de abordagens teóricas, desde a sociologia até a psicologia educacional. Mead (1934) contribuiu ao discutir a construção do self em relação ao outro, conceito que se aplica à formação da identidade profissional docente. Para Mead, o papel social do professor é mediado pelas expectativas da sociedade e pelas interações cotidianas na escola.

Na abordagem sociológica, Dubar (1997) destacou a identidade como um processo dinâmico, marcado por conflitos e negociações entre o indivíduo e as instituições. Segundo ele, a profissão docente é particularmente permeada por tensionamentos entre o ideal pedagógico e as condições reais de trabalho. Essa perspectiva também é ecoada por autores como Josso (2004), que explora as narrativas de vida como ferramenta para compreender a evolução identitária dos professores.

Por outro lado, no campo da psicologia educacional, Erikson (1968) ofereceu insights sobre a formação da identidade em estágios, destacando o impacto das experiências iniciais na carreira docente. Essas contribuições teóricas oferecem uma base robusta para a compreensão de como os traços identitários são moldados e transformados ao longo do tempo.

3. Enfoques Experimentais na Socialização Profissional Docente

Os enfoques experimentais na socialização profissional docente têm buscado integrar teoria e prática, promovendo formas mais eficazes de formação e desenvolvimento profissional. Estudos de caso realizados por Zeichner (2010) apontam que programas de residência pedagógica são especialmente úteis para aproximar os futuros professores das realidades escolares. Esses programas combinam teoria e prática de forma sistemática, oferecendo uma experiência de imersão.

Outro exemplo são as abordagens baseadas em comunidades de prática, defendidas por Wenger (1998), que enfatizam o aprendizado colaborativo. Nesses ambientes, os professores têm a oportunidade de compartilhar experiências, refletir sobre práticas e construir coletivamente soluções para os desafios do cotidiano escolar. Esses experimentos têm demonstrado que a interação entre pares é crucial para o fortalecimento de identidades profissionais.

A utilização de tecnologias digitais também representa um campo experimental em expansão. Estudos recentes, como os de Selwyn (2011) e de Pontes (2023), exploram o potencial das plataformas online para a socialização profissional. Essas ferramentas facilitam a criação de redes globais de aprendizagem, permitindo que professores troquem ideias e recursos independentemente de barreiras geográficas.

4. Aplicações e Utilidades da Socialização Profissional Docente

A socialização profissional docente tem diversas aplicações práticas que impactam positivamente tanto os professores quanto os alunos. Um exemplo é o desenvolvimento de programas de mentorias estruturadas, como os implementados em redes municipais de educação no Brasil. Esses programas auxiliam professores iniciantes a integrarem-se à cultura escolar, proporcionando suporte emocional e técnico.

Outro exemplo é a inclusão de oficinas de narrativa autobiográfica em cursos de formação. Inspiradas nos estudos de Josso (2004), essas oficinas permitem que professores reflitam sobre suas trajetórias pessoais e profissionais, fortalecendo sua consciência identitária. Isso contribui para uma prática pedagógica mais autêntica e conectada.

Projetos de intercâmbio internacional também representam uma aplicação relevante. Essas iniciativas promovem a compreensão intercultural e enriquecem as práticas pedagógicas dos participantes. Além disso, a implementação de tecnologias educacionais para formação continuada oferece aos professores acesso a conteúdos e ferramentas inovadoras, expandindo suas competências.

Referências Bibliográficas

DUBAR, C. A socialização: construção das identidades sociais e profissionais. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

ERIKSON, E. H. Identity and the life cycle. New York: Norton, 1968.

GOODSON, I. Professional knowledge, professional lives: Studies in education and change. Maidenhead: Open University Press, 2003.

HARGREAVES, A. Changing teachers, changing times: Teachers’ work and culture in the postmodern age. New York: Teachers College Press, 1998.

JOSSO, M. C. Experiências de vida e formação. Porto Alegre: Artmed, 2004.

MEAD, G. H. Mind, self, and society. Chicago: University of Chicago Press, 1934.

PONTES, Acelino. Prolegômenos à Nova Matemática. Fortaleza: Scientia Publishers, 2023. 232 p.

SAVIANI, D. História das ideias pedagógicas no Brasil. Campinas: Autores Associados, 2009.

SELWYN, N. Education and technology: Key issues and debates. London: Continuum, 2011.

WENGER, E. Communities of practice: Learning, meaning, and identity. Cambridge: Cambridge University Press, 1998.

ZEICHNER, K. Rethinking the connections between campus courses and field experiences in college- and university-based teacher education. Journal of Teacher Education, v. 61, n. 1-2, p. 89-99, 2010.

Nota: Parte do texto foi produzida em sinergia com IA.

Caian Cremasco Receputi

Mestre em Ciências pelo Programa de Pós-Graduação Interunidades em Ensino de Ciências da Universidade de São Paulo (2019). Licenciado em Química pela Universidade Federal do Espírito Santo (2015). Durante a graduação foi bolsista de Iniciação à Docência (PIBID). Possui experiência na área de Ensino de Química.

Atuou como professor substituto UFES (2015-2017), lecionando, principalmente, disciplinas de Metodologia Científica e Química Básica.

Atualmente é professor da Educação Básica, doutorando no PIEC/USP e membro do grupo de pesquisa Linguagem no Ensino de Química (LiEQui). Desenvolve projeto de pesquisa na linha de Formação de Professores, utilizando como aporte teórico-metodológico a Teoria das Representações Sociais. Participa do corpo editorial da Revista BALBÚRDIA – Revista de Divulgação Científica dos Discentes do PIEC-USP

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.