para o desenvolvimento do Pensamento Criativo em Matemática e suas interconexões com elementos fundamentais da Didática da Matemática
Inscrições: https://forms.gle/hS8D1AxxgjGCbcS6A
Informações: acm@acm-itea.org
Diante das diversas questões mundiais, os resultados de pesquisas relatam que a criatividade é de fundamental importância nas relações pessoais e interpessoais com objetos de estudo em meio a processos de construção de conhecimentos para a obtenção de possíveis respostas. Neste caso, o objetivo da palestra refere-se à discussão de um Modelo Didático para o Desenvolvimento do Pensamento Criativo em Matemática (MD-PCM), tendo como pano de fundo investigações a respeito da criatividade e sua dimensão em processos de ensino e aprendizagem em matemática. Essas investigações apresentam análises e interconexões com elementos fundamentais da didática, em particular com a Teoria Antropológica do Didático e, de forma mais específica com o Percurso de Estudo e Pesquisa (PEP).
- Evolução Histórica do Modelo Didático e Pensamento Criativo em Matemática
O desenvolvimento do pensamento criativo em Matemática tem suas raízes no avanço histórico da Didática da Matemática, que começou a se estruturar como campo de estudo no final do século XIX e início do século XX. Autores como Georges Pólya e Guy Brousseau contribuíram significativamente para a consolidação desse campo, abordando questões metodológicas voltadas ao ensino e aprendizagem de conceitos matemáticos. Pólya, em especial, introduziu a ideia de que a resolução de problemas deve ser uma atividade central no ensino de Matemática, promovendo o desenvolvimento de habilidades criativas (PÓLYA, 1954). Brousseau, por sua vez, aprofundou o conceito de situações didáticas, em que o aluno é instigado a formular soluções criativas para problemas matemáticos (BROUSSEAU, 1997).
A partir dos estudos de Brousseau e Pólya, a Didática da Matemática passou a enfatizar não apenas o conhecimento técnico dos alunos, mas também sua capacidade de aplicar conceitos em novas situações. Esse enfoque permitiu a introdução de modelos didáticos que priorizam a criatividade, como o Modelo de Investigação Matemática de Ponte e Matos, que visa engajar os alunos em atividades investigativas, estimulando a criação de estratégias próprias para a resolução de problemas (PONTE; MATOS, 2009). Esse modelo rompe com práticas tradicionais que muitas vezes restringem o pensamento criativo ao reproduzir fórmulas e algoritmos sem compreensão profunda.
Nos últimos anos, as teorias de autores como Anna Sfard e Lev Vygotsky também têm sido aplicadas no campo da Didática da Matemática, com foco no desenvolvimento do pensamento criativo através da interação social e da linguagem. Sfard introduziu o conceito de “pensamento discursivo”, destacando que a linguagem desempenha um papel crucial na construção de significados matemáticos e, consequentemente, no desenvolvimento da criatividade matemática (SFARD, 2008). Vygotsky, por outro lado, defendeu que o desenvolvimento cognitivo ocorre através de interações sociais, o que se alinha ao uso de práticas colaborativas e exploratórias na sala de aula (VYGOTSKY, 1978).
- Perspectivas Científicas do Pensamento Criativo na Matemática
As abordagens científicas para o desenvolvimento do pensamento criativo em Matemática têm avançado em diferentes direções, com ênfase em áreas como a neurociência e a psicologia cognitiva. Estudos de neurociência cognitiva indicam que o pensamento criativo em Matemática envolve a ativação de áreas cerebrais associadas ao raciocínio abstrato e à resolução de problemas complexos (DIETRICH, 2004). Essas descobertas abriram novas perspectivas para a criação de modelos didáticos que estimulam não apenas a memorização de conteúdos, mas também a habilidade de inovar e pensar de forma original.
A psicologia cognitiva, especialmente a partir das pesquisas de Sternberg e Lubart, tem contribuído para a compreensão das características do pensamento criativo, como a capacidade de gerar ideias novas, flexibilidade cognitiva e fluência de pensamentos (STERNBERG; LUBART, 1995). Essas características são fundamentais na Matemática, onde a resolução de problemas requer não apenas a aplicação de métodos conhecidos, mas também a invenção de novas abordagens. Dessa forma, a Didática da Matemática tem incorporado elementos da psicologia cognitiva para construir modelos didáticos que favoreçam a criatividade.
Além disso, pesquisas no campo da educação matemática têm explorado o papel da motivação e das emoções no desenvolvimento do pensamento criativo. Estudos de Boaler (2016) mostram que ambientes de ensino que estimulam a confiança dos alunos em suas próprias capacidades tendem a fomentar maior criatividade no raciocínio matemático. Isso leva à reflexão de que o modelo didático deve incluir não apenas estratégias cognitivas, mas também formas de incentivar a confiança e o interesse do aluno pela Matemática (BOALER, 2016).
- Enfoques Experimentais e Aplicações do Modelo Didático
Os enfoques experimentais no ensino da Matemática têm buscado maneiras de promover o pensamento criativo por meio de atividades práticas e colaborativas. Um exemplo marcante é o trabalho de David Tall, que investiga como representações visuais e simbólicas podem ser usadas para facilitar a compreensão e estimular a criatividade no pensamento matemático (TALL, 2013). Tall enfatiza a importância de modelos visuais na construção de conceitos matemáticos abstratos, permitindo aos alunos visualizar e criar soluções originais.
Outro enfoque experimental significativo é o uso da modelagem matemática, que permite aos alunos representar situações do mundo real em termos matemáticos, resolvendo problemas de maneira criativa e colaborativa. Em seu estudo sobre a modelagem no ensino da Matemática, Borromeo Ferri (2013) afirma que essa abordagem fornece aos alunos uma plataforma para explorar soluções e desenvolver habilidades criativas, conectando Matemática com questões cotidianas e práticas. A modelagem matemática tem se mostrado eficaz em promover um aprendizado mais significativo e inovador (BORROMEO FERRI, 2013).
Além disso, o uso de tecnologias digitais na educação matemática tem sido uma tendência crescente nos enfoques experimentais, com plataformas interativas como GeoGebra e Wolfram Alpha permitindo a visualização e experimentação de conceitos matemáticos complexos. Estudos de autores como Kaput (1992) indicam que o uso dessas ferramentas facilita a exploração criativa de conceitos matemáticos e a construção de novas ideias, ao permitir que os alunos testem hipóteses e visualizem múltiplas soluções para um problema (KAPUT, 1992).
- Exemplos de Aplicações e Projetos
As aplicações do modelo didático para o desenvolvimento do pensamento criativo em Matemática são amplas e diversificadas, abrangendo projetos educacionais inovadores. Um exemplo é o projeto “Matemática em Ação”, que envolve alunos na criação de soluções matemáticas para problemas práticos do dia a dia, promovendo um ambiente de investigação e descoberta (NUNES; BRITO, 2015). Esse tipo de iniciativa tem demonstrado que a prática de resolver problemas reais pode fortalecer tanto o pensamento criativo quanto a compreensão matemática dos alunos.
Outro exemplo é o uso de atividades de resolução colaborativa de problemas, onde os alunos são incentivados a trabalhar em grupos para discutir e formular soluções criativas para problemas abertos. Essas atividades são frequentemente baseadas no modelo de “problema aberto” de Liljedahl (2016), que sugere que o pensamento criativo pode ser melhor estimulado quando não há uma única solução correta predefinida (LILJEDAHL, 2016). Tais projetos têm sido implementados em diferentes níveis de ensino, desde a educação básica até o ensino superior.
Adicionalmente, o projeto “Matemática e Arte” explora a interconexão entre essas duas áreas para promover a criatividade dos alunos, levando-os a descobrir como conceitos matemáticos podem ser representados artisticamente. Estudos de Friedlander (2011) mostram que essa abordagem interdisciplinar estimula o pensamento criativo, ajudando os alunos a verem a Matemática sob novas perspectivas (FRIEDLANDER, 2011). Tais projetos ampliam as fronteiras do ensino tradicional da Matemática, integrando-o a outras áreas do conhecimento e da expressão humana.
- Referências Bibliográficas
BOALER, J. Mathematical Mindsets: Unleashing Students’ Potential through Creative Math, Inspiring Messages and Innovative Teaching. San Francisco: Jossey-Bass, 2016.
BORROMEO FERRI, R. Mathematical Modelling in Education Research and Practice. Cham: Springer, 2013.
BROUSSEAU, G. Theory of Didactical Situations in Mathematics: Didactique des Mathématiques, 1970–1990. Dordrecht: Kluwer Academic Publishers, 1997.
DIETRICH, A. The Cognitive Neuroscience of Creativity. Psychonomic Bulletin & Review, v. 11, n. 6, p. 1011-1026, 2004.
FRIEDLANDER, S. Art and Mathematics: Two Fields of Creativity. Journal of Mathematics and the Arts, v. 5, n. 3, p. 95-102, 2011.
KAPUT, J. Technology and Mathematics Education. In: GROW, D. A. (Ed.). Handbook of Research on Mathematics Teaching and Learning. New York: Macmillan, 1992.
LILJEDAHL, P. Building Thinking Classrooms in Mathematics. New York: Corwin, 2016.
NUNES, T.; BRITO, G. Matemática em Ação: Aplicações Práticas no Ensino Fundamental. São Paulo: Editora Moderna, 2015.
PÓLYA, G. How to Solve It: A New Aspect of Mathematical Method. Princeton: Princeton University Press, 1954.
PONTE, J. P.; MATOS, J. F. Investigação Matemática e a Educação dos Alunos. Lisboa: APM, 2009.
SFARD, A. Thinking as Communicating: Human Development, the Growth of Discourses, and Mathematizing. Cambridge: Cambridge University Press, 2008.
STERNBERG, R. J.; LUBART, T. I. Defying the Crowd: Cultivating Creativity in a Culture of Conformity. New York: Free Press, 1995.
Nota: Parte do texto foi produzida em sinergia com IA.
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Teodora Pinheiro Figueroa
Possui graduação em Licenciatura em Matemática pela Universidade de São Paulo (1997), mestrado em Engenharia Mecânica pela Universidade de São Paulo (2000) e doutorado em Engenharia Mecânica pela Universidade de São Paulo (2005).
Pós-doutorado em Educação Matemática (2019).
É membro do Grupo de Estudos e Pesquisas da Didática da Matemática (GEDIM) da Universidade Federal do Pará (UFPA) e membro do GT-14 Didática da Matemática da Sociedade Brasileira de Educação Matemática (SBEM).
Professora na classe de professor associado, nível 4 da Universidade Tecnológica Federal do Paraná- UTFPR, campus Pato Branco.
Atua na área de Matemática Aplicada e Educação Matemática, mais especificamente em Didática da Matemática e Interdisciplinaridade a nível de ensino fundamental, médio e superior.
CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/7702237007395895
Resumo
Teodora Pinheiro apresentou uma análise detalhada sobre a estrutura das praxeologias e sua importância na didática da matemática, enfatizando a necessidade de reflexão crítica por parte dos alunos ao resolver problemas. Ela destacou que muitos estudantes realizam tarefas de forma automática, sem explorar diferentes abordagens, o que limita seu desenvolvimento matemático. A interação entre professores e alunos nos sistemas didáticos é fundamental para fomentar a criatividade e a inovação no aprendizado, permitindo que os alunos se sintam desafiados a pensar de maneira mais profunda.
A discussão sobre criatividade matemática foi enriquecida com exemplos práticos, como o de Gauss, que ilustra como o reconhecimento de padrões pode levar a soluções inovadoras. Teodora enfatizou a importância de proporcionar aos alunos tempo e espaço para explorar diversas estratégias de resolução, criando um ambiente de aprendizado que estimule a reflexão e a criatividade. Ela também apresentou um modelo estruturado para o desenvolvimento do pensamento criativo, fundamentado na teoria antropológica do didático, que inclui a criação de situações didáticas que incentivem a troca de ideias e a interação entre os alunos.
Acelino Pontes e Maxwell Gonçalves Araújo contribuíram para a discussão, abordando a rigidez das diretrizes educacionais que muitas vezes sufocam a criatividade dos professores. Eles defenderam a necessidade de uma educação que priorize o desenvolvimento pessoal e profissional dos alunos, adaptando os métodos de ensino às suas necessidades. A conversa culminou na ideia de que a criatividade é essencial para engajar os alunos e melhorar a aprendizagem, ressaltando a importância de transformar a matemática em uma disciplina que valorize não apenas a precisão, mas também a beleza e a exploração de ideias.
Comentários
Excelente aprendizado (Addelia Elizabeth Neyrao de Mello) |
Parabéns (Adriana de Souza) |
Está conversa me marcou muito, pois recentemente li Chevelard. Espero que se repita, adorei a formação. (Aguinaldo Antonio Rodrigues) |
Excelente aula! Os conteúdos me auxiliarão na reflexão da minha tarefa docente. (André Campos da Rocha) |
Parabéns pelo trabalho. É muito importante trabalhar a “criatividade matemática”. Muitas vezes, nos deparamos com problemas do cotidiano que envolvem esta necessidade criativa. Obrigado pelos conhecimentos. (André Stefanini Jim) |
Ótima palestra (Arley Zamir Chaparro Cardozo) |
Excelente palestra! (Ayslan Kevin Costa Brandão) |
Ótima palestra! (Camille Vitória Pereira Nunes) |
Excelente palestra (Carlos Magno de Moraes) |
Excelente palestra (César Chagas de Almeida) |
Excelente palestra, parabéns. (Cláudio Firmino Arcanjo) |
Parabéns pelo evento. (Cleonis Viater Figueira) |
Apresentação muito boa. (Clésia Jordânia Nunes da Costa) |
Aula ótima!!! (Cristiano Holanda Araujo Gomes) |
Parabéns pela excelente palestra e pelo tema em questão. Muitas observações interessantes. Parabéns!!! (Flávio Maximiano da Silva Rocha) |
Foi uma excelente uma palestra. (Francisco Gomes Martins) |
Uma verdadeira riqueza de conhecimento em torno do mediador e o seu aprendiz (Francisco Isidro Pereira) |
ÓTIMA PALESTRA. (Gilvana Bezerra De Sousa) |
Muito interessante essa teoria (Gleimerson Ferreira Do Nascimento) |
Ótimo (Guilherme Alves da Silva) |
Parabéns, excelente palestra! (Hailton David Lemos) |
Excelente tema e apresentação. (Ivanildo da Cunha Ximenes) |
Levou fundamentos para realizarmos aulas de forma a precisamos ser mais curiosos. Não levar à resposta, mas sim ao questionamento. Não ficarmos engessados a um modelo e forma de resolução. (Jonas Heller Junqueira Klein Rotenberg) |
Excelente palestra, muito inspiradora. (Jorge Luiz Cremontti Filho) |
EXCELENTE PALESTRA (José Andrés Ynoñán Jiménez) |
Obrigado! (Júlio Cesar dos Santos Barbosa Junior) |
Parabéns professora pela palestra. (Lucia dos Santos Bezerra de Farias) |
Apesar de ter chegado atrasado, ótima palestra!! (Luiz José da Silva) |
Maravilhosa palestra! Parabéns professora Teodora Pinheiro! (Maxwell Gonçalves Araújo) |
Ótima palestra (Mônica Lines Silvino Santana) |
Excelente palestra! Parabéns para a Professora Teodora. (Odenilson Pereira Vieira) |
Muito bom!!! (Otávio de Souza Machado) |
Boa palestra! (Paul Lee Marques) |
Excelente aula! Excelente tema escolhido! (Pedro Henrique Monteiro Malacarne) |
Excelente apresentação da professora de um tema extremamente relevante ao Ensino de Matemática (Rosa Elvira Quispe Ccoyllo) |
Temática bastante pertinente. Agradeço pela oportunidade de participar dessa formação. (Rosiane Santos Fontes) |
Ótimo curso (Rozimeire Ferreira Fernandes Moreira) |
Ótima palestra! (Tiago Francisco da Silva) |