um breve histórico de sua criação e consolidação
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Informações: acm@acm-itea.org
Nesta palestra serão tecidas breves considerações sobre eventos históricos que contribuíram para a criação e consolidação da Comunidade Matemática Brasileira. Para tanto, serão, inicialmente, apresentadas informações históricas acerca da criação desta comunidade, assim, será abordada: a criação e funcionamento de instituições que formavam e reuniam matemáticos no Brasil nos anos 1930, 1940 e 1950; a criação de canais de comunicação entre estes pesquisadores; e a produção de manuais científicos em território brasileiro. Por fim, serão destacados eventos históricos que contribuíram para a consolidação desta comunidade e a relevância do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) neste processo.
1. Marcos Históricos e Institucionais da Formação da Comunidade Matemática Brasileira
A consolidação da comunidade matemática no Brasil tem início formal no século XX, com a criação de instituições voltadas à pesquisa e ao ensino. Um dos marcos fundadores foi a criação do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), em 1952, sob a liderança de Leopoldo Nachbin e Maurício Peixoto. O IMPA foi decisivo para profissionalizar a pesquisa matemática no país, funcionando como polo de formação de pesquisadores e de articulação internacional (Souza, 2013). A fundação da Sociedade Brasileira de Matemática (SBM) em 1969 consolidou esse movimento, proporcionando um espaço institucional para a comunidade científica se articular.
A década de 1970 testemunhou a ampliação dos programas de pós-graduação em Matemática, com o incentivo da CAPES e do CNPq. Estes programas foram fundamentais para a formação de doutores e a fixação de grupos de pesquisa em universidades públicas em várias regiões do Brasil. Autores como Luna (2000) destacam a importância das escolas de verão organizadas pelo IMPA na formação continuada de docentes e pesquisadores. Com isso, houve um aumento substancial na produção científica brasileira em matemática a partir dos anos 1980.
O reconhecimento internacional da comunidade matemática brasileira foi impulsionado por conquistas expressivas em competições e colaborações internacionais. Um marco simbólico importante foi a conquista da Medalha Fields por Artur Ávila em 2014, primeiro brasileiro e latino-americano a receber o prêmio. Segundo Ávila (2015), essa conquista foi fruto do ambiente de excelência cultivado desde os anos 1950 e da aposta na pesquisa de longo prazo. Esse reconhecimento impulsionou políticas públicas de incentivo à ciência, ainda que instáveis nos anos seguintes.
2. Perspectivas Científicas e Enfoques Experimentais da Matemática no Brasil
A produção científica matemática no Brasil sempre teve forte influência da matemática pura, com destaque para análise, topologia e sistemas dinâmicos. Isso refletiu-se na orientação teórica dos programas de pós-graduação nos principais centros de pesquisa. Entretanto, a partir dos anos 2000, observa-se uma valorização crescente da matemática aplicada e computacional (Lima, 2018). O diálogo com áreas como biologia, economia e ciências dos materiais ganhou força em projetos interdisciplinares apoiados por agências de fomento.
Do ponto de vista experimental, a matemática brasileira avançou na modelagem de fenômenos naturais e na simulação computacional de sistemas complexos. Pesquisas em biomatemática, criptografia e inteligência artificial vêm sendo conduzidas com colaboração internacional e financiamento competitivo. Segundo Carvalho (2020), essa orientação prática amplia as interfaces da matemática com problemas reais da sociedade. O desenvolvimento de softwares matemáticos educacionais também reforça essa vertente aplicada.
Além disso, os grupos de pesquisa brasileiros têm investido na formação de redes temáticas e projetos integradores. A Rede Nacional de Pesquisa em Matemática Pura e Aplicada (RNPMat) articula dezenas de instituições em torno de temas de interesse comum. Essa cooperação fortalece o intercâmbio acadêmico e a produção conjunta de artigos e materiais didáticos (Oliveira, 2021). O apoio da Finep e de fundações estaduais tem sido essencial para manter a infraestrutura de pesquisa matemática no país.
3. Aplicações, Utilidades e Impactos da Matemática na Sociedade Brasileira
A matemática é uma ferramenta essencial na formulação de políticas públicas, planejamento urbano, controle de epidemias e segurança de dados. A modelagem matemática de epidemias, por exemplo, ganhou destaque durante a pandemia de COVID-19 com o trabalho de grupos como o ModCovid19. Segundo Silva e Teixeira (2021), tais modelos permitiram prever cenários e orientar medidas governamentais com base em evidências científicas. Essa atuação reforçou a imagem da matemática como ciência estratégica e socialmente relevante.
Na indústria e no setor financeiro, algoritmos matemáticos são utilizados para prever riscos, otimizar processos e realizar análises preditivas. A presença de matemáticos em bancos, seguradoras e empresas de tecnologia é cada vez mais comum no Brasil. De acordo com Barbosa (2019), o domínio de técnicas estatísticas e computacionais torna o profissional de matemática altamente empregável em setores de ponta. A valorização da matemática no mercado de trabalho contribui também para atrair jovens talentos para essa área.
A matemática também desempenha papel fundamental na formação do pensamento lógico e crítico dos cidadãos. Esse impacto é observado em práticas sociais como a leitura de gráficos, interpretação de dados e tomada de decisão baseada em evidências. Segundo D’Ambrosio (1990), a matemática é uma linguagem que permite compreender e transformar o mundo. Nesse sentido, sua aplicação vai além do campo científico e atinge esferas éticas, políticas e culturais da sociedade.
4. A Relevância da Comunidade Matemática Brasileira na Educação Básica
A comunidade matemática brasileira tem contribuído intensamente para a formação de professores e para o aprimoramento do ensino de matemática na educação básica. Iniciativas como o OBMEP (Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas), criada em 2005, integram pesquisadores, docentes e estudantes em uma grande mobilização nacional. De acordo com Soares (2017), a OBMEP estimula o pensamento matemático e descobre talentos em regiões historicamente excluídas. Além disso, fortalece o vínculo entre ensino, pesquisa e extensão.
As universidades públicas e os centros de pesquisa oferecem formação continuada a professores da rede pública por meio de cursos, estágios e programas de mestrado profissional. O PROFMat, coordenado pela SBM desde 2011, é um exemplo de programa voltado à qualificação docente com base em rigor matemático e didática aplicada. Segundo Mendes (2020), essa formação fortalece a base da educação básica ao levar conhecimento atualizado às salas de aula. O impacto se reflete na melhoria dos indicadores de aprendizagem em diversas redes municipais e estaduais.
Além das ações institucionais, há um movimento crescente de produção e difusão de materiais didáticos de qualidade. Projetos de popularização da matemática, como feiras científicas, clubes de matemática e vídeos educativos, vêm sendo estimulados pela comunidade. Conforme sugere Skovsmose (2000), é fundamental uma matemática crítica que conecte os conteúdos escolares aos desafios sociais e culturais dos estudantes. A comunidade matemática tem papel crucial nesse processo de transformação educacional.
Referências Bibliográficas
ÁVILA, Artur. Medalha Fields e a matemática brasileira. Revista Brasileira de Ensino de Matemática, v. 23, n. 2, p. 113-117, 2015.
BARBOSA, José M. Matemática aplicada ao setor financeiro: uma análise de competências. Revista de Matemática Aplicada e Computacional, v. 37, n. 1, p. 45-58, 2019.
CARVALHO, Ana M. Matemática aplicada e interdisciplinaridade: uma nova fronteira científica. Cadernos de Pesquisa, v. 50, n. 177, p. 22-39, 2020.
D’AMBROSIO, Ubiratan. Educação matemática: da teoria à prática. São Paulo: Papirus, 1990.
LIMA, Eliane M. Panorama da matemática aplicada no Brasil. Boletim da SBM, v. 49, n. 1, p. 19-29, 2018.
LUNA, Eliezer. História da matemática no Brasil: o papel da pós-graduação. Educação e Pesquisa, v. 26, n. 1, p. 13-25, 2000.
MENDES, Rosa A. O PROFMat e a formação de professores de matemática. Revista de Educação Matemática, v. 28, n. 3, p. 55-71, 2020.
OLIVEIRA, João R. Redes de pesquisa em matemática: impacto e desafios no Brasil. Matemática Universitária, v. 58, n. 2, p. 33-47, 2021.
PONTES, Acelino. Prolegômenos à Nova Matemática. Fortaleza: Scientia Publishers, 2023. 232 p.
SILVA, Rafael P.; TEIXEIRA, Luiz B. Modelos matemáticos e pandemia: o papel da modelagem no enfrentamento da COVID-19. Revista Brasileira de Modelagem Computacional, v. 19, n. 3, p. 98-110, 2021.
SKOVSMOSE, Ole. Mathematics and democracy. Educational Studies in Mathematics, v. 41, p. 113-131, 2000.
SOARES, Paulo R. OBMEP: desafios e conquistas na democratização da matemática. Ensino da Matemática em Debate, v. 4, n. 1, p. 71-86, 2017.
SOUZA, Carlos H. História da matemática no Brasil: uma perspectiva institucional. Ciência & Educação, v. 19, n. 1, p. 89-102, 2013.
Nota: Parte do texto foi produzida em sinergia com IA.

Mariana Feiteiro Cavalari Silva
Licenciada em Matemática pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) em 2004, mestre em Educação Matemática pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) Câmpus Rio Claro em 2007 e doutora em Educação Matemática pela mesma instituição em 2012.
Realizou uma pesquisa, na condição de Affiliate Academic, no Institut of Education da University College London (IOE-UCL), por um ano (03/2018 – 02/2019).
Foi professora de Matemática em escolas da Educação Básica no Estado de São Paulo e desde 2009, é professora da Universidade Federal de Itajubá – UNIFEI.
Atuando no Instituto de Matemática e Computação desta instituição, leciona, sobretudo, as disciplinas de Prática de Ensino de Matemática, Estágio Supervisionado e História da Matemática.
É membro permanente do corpo docente do Programa de Pós-graduação em Educação em Ciências e Líder do Grupo de Pesquisa em Práticas Formativas e Educativas em Ciências e Matemática (PFECiM) da UNIFEI.
Foi Membro da Diretoria da Sociedade Brasileira de História da Matemática por dois mandados (2015-2019 e 2019-2023) e atualmente é presidente da SBHMat (2023-2027).
É editora associada da Revista Brasileira de História da Matemática (RBHM).
Suas áreas de pesquisa são: História da Matemática; História das Mulheres e Gênero na Matemática; História da Matemática no ensino e na formação de professores de matemática e; Gênero na formação de professores.
CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/5615760553062573